Miguel Guimarães espera que Adalberto Campos Fernandes se retrate após ter desvalorizado o pedido de demissão dos 16 chefes de equipa do serviço de urgência do Hospital de São José. O ministro da Saúde minimizara a importância da atitude dos médicos, dizendo que apenas “dois ou três” tinham assinado acarta de demissão entregue à administração do hospital, o que não corresponde à verdade. O bastonário visitou o Hospital de São José e enalteceu “a coragem dos médicos, que tomaram uma decisão difícil numa situação limite, em nome dasegurança dos doentes”.
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), acompanhado pelo presidente da Secção Regional do Sul da OM, visitou na manhã desta terça-feira, dia 10 de julho, o Centro Hospitalar Lisboa Central – Hospital de São José e ficou preocupado com o estado do serviço de urgência daquele hospital. “Esta é uma situação grave e estou solidário com os chefes deequipa que pediram demissão, colocando os interesses dos doentes em primeiro lugar”, afirmou Miguel Guimarães, reiterando o seu “total apoio” aos médicos que denunciaram afalta de condições de segurança do serviço de urgência do hospital. “O ministro da Saúde deve um pedido de desculpas a estes médicos, que não são dois ou três, mas sim os 16chefes das equipas do serviço de urgência”, sublinhou.
“A denúncia deste tipo de realidade não é nada fácil para os médicos e só é feita numa situação limite, em que os chefes de equipa se sentem impelidos a salvaguardar a segurança clínica dos doentes, protegendo as boas práticas médicas e o cumprimento das normas éticas e deontológicas”, completou o bastonário, que reuniu com os médicos demissionários para ouvir as suas razões e compreender as dificuldades com que se confrontam no dia a dia de trabalho.
A falta de recursos humanos, a saída de vários profissionais da unidade hospitalar e a degradação progressiva do serviço de urgência foram matérias de análise na reunião com o Conselho de Administração do Hospital de São José. “Há dois anos que os médicos alertavam a administração para as dificuldades sentidas no serviço de urgência. É essencial haver capacidade de contratação de jovens especialistas e outros profissionais de saúde, para além de renovar infraestruturas, entre outras medidas. A falta de capital humano limita muito a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente ao nível da urgência, e pode ter implicações sérias no aumento das listasde espera para consultas e cirurgias”, alertou Miguel Guimarães.
Também o decréscimo da procura de formação no Centro Hospitalar de Lisboa Central e o recuso à telerradiologia pela ausência de radiologistas em presença física, no período noturno, são questões que preocupam os chefes de equipa do Hospital de SãoJosé. “A telerradiologia não foi criada para servir como regra”, frisou o bastonário.
“O que se passa no São José não é um caso pontual e temo que seja extensível amuitos hospitais do país”, acrescentou Miguel Guimarães. Numa altura em que tanto se discute a revisão da Lei de Bases de Saúde e estando em causa a essência do SNS, “é imperativo que o Governo se concentre em garantir a segurança e qualidade dos cuidados de saúde. O Governo não pode manter-se em negação da evidência e não pode deixar o SNS continuar a deteriorar-se”.