No passado dia 24 de janeiro, a revista científica Nature publicou um artigo de Aris Katzourakis, investigador de evolução viral e genómica da Universidade de Oxford, que alerta para os perigos da caracterização da Covid-19 como uma doença endémica.
A palavra “endemia” tornou-se, segundo o autor, a palavra mais mal utilizada da pandemia, uma vez que serve apenas para desculpar o “otimismo preguiçoso”. A única maneira de se garantir estabilidade, defende, é encarar os dados que temos disponíveis de forma realista e usar as armas que temos ao nosso alcance, ou seja, as vacinas – que devem englobar uma proteção mais ampla para as várias variantes –, os medicamentos, os testes de diagnóstico, o uso de máscaras, o distanciamento, entre outras.
De acordo com Aris Katzourakis, acreditar que uma doença endémica já não é perigosa é um erro muito preocupante e, acima de tudo, perigoso. É mais seguro que se prepare a população mundial para que a situação se possa a vir descontrolar novamente, de forma a que nunca se baixe a guarda, nem se desvalorize a perigosidade da infeção.
O artigo relembra que se considera que uma infeção é endémica quando já é muito frequente entre a população de uma determinada área, contudo uma doença endémica, pode ser também generalizada e mortal. Dizer que uma doença é endémica, não diz nada sobre quanto tempo pode levar até que acabe de se espalhar pelo mundo, bem como não diz nada acerca das taxas de infeção e mortalidade. Esta definição não garante, portanto, estabilidade, uma vez que a qualquer momento podem surgir novos surtos.
“O mesmo vírus pode vir a causar infeções endémicas, epidémicas e pandémicas”, sendo que estas variáveis estão estritamente ligadas ao comportamento das populações, à estrutura demográfica, à suscetibilidade e à imunidade. Os diferentes cenários políticos existentes no mundo e as suas respetivas capacidades de resposta a infeções, podem permitir que determinadas variantes evoluam com maior ou menor facilidade.