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Aprender a aprender – desafios e oportunidades para a Década Digital Europeia

 

 

 

 

 

 

 

Autor: Gustavo Montanha

Anestesiologista / Intensivista

 

A União Europeia (UE) estabeleceu planos ambiciosos para a Década Digital até 2030, com objetivos específicos na área de eHealth e inteligência artificial (IA). Estes planos incluem o desenvolvimento de infraestruturas digitais robustas, a promoção da literacia digital e a implementação de tecnologias avançadas em sistemas de saúde. Estas iniciativas têm como objetivo melhorar a eficiência e a qualidade dos cuidados de saúde, mas também colocam desafios significativos para a atividade e educação médica e a autonomia dos médicos. Este avanço tecnológico traz consigo oportunidades, mas também desafios que merecem uma reflexão profunda.

Um dos maiores desafios é evitar o empobrecimento do conhecimento individual, a perda de capacidade crítica e da autonomia dos médicos. A confiança excessiva em sistemas de IA pode levar a uma diminuição na capacidade dos médicos desenvolverem o seu raciocínio clínico e de tomarem decisões complexas. A tecnologia deve ser uma ferramenta auxiliar, e não um substituto do julgamento humano.

Além disso, a medicina é um campo em constante evolução. O conhecimento adquirido durante a formação inicial rapidamente se torna obsoleto sem uma atualização permanente. Por isso, é imperativo que os médicos cultivem a capacidade de aprender ao longo da vida. A educação médica contínua deve focar-se não apenas na aquisição de novos conhecimentos, mas também no desenvolvimento de capacidades para aprender de forma eficaz e adaptativa.

Para enfrentar estes desafios, proponho algumas estratégias. Primeiro, integrar o ensino de competências de literacia digital e de avaliação crítica de tecnologias na formação médica. Segundo, promover a colaboração interdisciplinar, permitindo que médicos entre si e com especialistas em IA trabalhem em conjunto para melhorar os cuidados de saúde. Terceiro, incentivar uma cultura de aprendizagem contínua, onde os médicos sejam motivados a atualizar e expandir constantemente os seus conhecimentos. Quarto, criar uma diferenciação pós-graduada que permita aos médicos com competências e conhecimentos em eHealth trabalharem como líderes e consultores no processo de digitalização na área da saúde – nacional e Europeia.

Em conclusão, enquanto a IA promete revolucionar a medicina, devemos garantir que os médicos não percam a capacidade de formar e manter o seu próprio conhecimento. A chave está em aprender a aprender, adaptando-nos às novas ferramentas sem abdicar do nosso julgamento crítico e da nossa autonomia. Os pontos que devem ser discutidos por quem tem poder decisor deverão incluir:

  • A Dependência da Tecnologia: a confiança excessiva na IA pode afetar a capacidade dos médicos em tomar decisões independentes.
  • A Educação Contínua: a importância de uma educação médica contínua e adaptativa.
  • A Integração de Competências Digitais: a inclusão de literacia digital nos currículos médicos, em linha com os planos da UE.
  • A Colaboração Interdisciplinar: a importância de médicos trabalharem em conjunto e com especialistas em IA.
  • A Autonomia e Raciocínio Crítico: a necessidade de manter a autonomia e o raciocínio crítico na prática médica.

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Referências:

  1. União Europeia. Digital Decade Policy Programme 2030. Disponível em: https://digital-strategy.ec.europa.eu/en/library/digital-decade-policy-programme-2030

  2. European Commission. White Paper on Artificial Intelligence: A European Approach to Excellence and Trust. Disponível em: https://ec.europa.eu/info/sites/default/files/commission-white-paper-artificial-intelligence-feb2020_en.pdf