O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, visitou dia 30 de junho o hospital Amadora-Sintra (Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca) onde estão internados entre 60 a 70 doentes com COVID-19. O objetivo da visita foi ouvir diretamente dos colegas que dificuldades estão a ser sentidas no terreno mas também levar palavras de apoio e motivação, sob a forma de agradecimento a todos eles. A visita começou na administração, presidida por um médico, passou pelos serviços que estão dedicados à COVID-19 e terminou numa reunião com os médicos. Uma das conclusões desta visita é que, de facto, o Amadora-Sintra já ultrapassou o seu limite e que é necessário um trabalho coordenado entre os vários hospitais da região para assegurar a capacidade de resposta às necessidades da população.
Logo no início da visita, o presidente do Conselho de Administração, o especialista em Anatomia Patológica Marco António Ferreira, explicou que o problema deste hospital está a tornar-se crónico: construído há 25 anos para servir uma população de 250 mil habitantes, neste momento tem praticamente o dobro. “Esse é o nosso principal problema”, frisou. Foi exatamente esse aspeto que Miguel Guimarães evidenciou em declarações aos jornalistas ao explicar que “a pressão no hospital é muito grande” e que “se, em tempos normais, este hospital já tinha muitas dificuldades, quer ao nível do serviço de urgência, quer do internamento e dos cuidados intensivos, é evidente que em fase de pandemia esta situação se agravou”.
“A pandemia vai de férias? Não!”, foi com estas palavras que o diretor do Serviço de Pneumologia do Hospital Amadora-Sintra, Fernando Rodrigues, resumiu à delegação da Ordem dos Médicos como, voluntariamente, os médicos aceitaram condicionar os seus merecidos (e necessários) períodos de férias de forma a não inviabilizar equipas no combate à pandemia. Essa foi uma decisão tomada pela generalidade dos serviços (incluindo também Medicina Interna, Infecciologia, etc.) sendo-nos referido por alguns dos especialistas que o combate a esta doença é “um dever patriótico”, demonstrando atitudes que, mais do que quaisquer palavras, demonstram a dedicação destes profissionais aos seus doentes. Apesar disso, o cansaço e a exaustão já se fazem sentir. Com novos surtos de COVID-19 na região que é servida por este hospital, as necessidades em termos de recursos humanos voltaram a acentuar-se e percebe-se que os médicos – tal como os outros profissionais – estão exaustos e a chegar ao limite. As equipas estão subdimensionadas porque não existem médicos suficientes. O bastonário da Ordem dos Médicos recordou que a instituição entregou ao Ministério uma listagem com quase 5 mil médicos disponíveis para ajudar o SNS no combate a esta pandemia e que muitos deles não foram ainda chamados pela tutela.
Mesmo com a pressão da COVID-19, o representante máximo dos médicos recordou os doentes não-COVID e a urgência em começar a dar resposta a patologias graves nomeadamente em doentes crónicos que estão a ficar para trás. Foi precisamente essa uma das preocupações manifestadas pelos pneumologistas do Hospital Amadora-Sintra que, por estarem sobrecarregados quase exclusivamente com a dedicação ao seguimento dos doentes COVID-19 em equipas subdimensionadas, sentem que estão a negligenciar doentes, por exemplo, com DPOC que eram seguidos nesse serviço e que também necessitam muitas vezes de ventilação não invasiva, tecnologia que neste momento está totalmente atribuída ao combate à pandemia. “Desde há 4 meses que o serviço quase que só vê doentes COVID”, explicou o diretor do serviço de Pneumologia. Também o especialista em Pneumologia, Ricardo Melo, secundou esta preocupação alertando que o impacto nos doentes com patologias respiratórias crónicas vai agravar-se se continuarmos a deixar esses doentes sem cuidados adequados. Por sentir nas palavras dos colegas estas carências, pré-existentes à pandemia, mas agora exacerbadas pela necessidade de circuitos dedicados à COVID-19, Miguel Guimarães defende uma gestão integrada com as várias unidades de saúde, gestão essa que deveria ser realizada pelas autoridades de Saúde de forma mais eficaz.
Sobre a transferência inter-hospitalar – no caso do Amadora-Sintra já terão sido transferidos 50 doentes para libertar camas de forma a receber novos internados – o bastonário explicou ser uma situação natural e incentivou a solidariedade entre instituições: “os hospitais da Grande Lisboa têm de se ajudar uns aos outros”, realçou. Embora na comunicação social tenha surgido a notícia da transferência de doentes para o Hospital de Santarém, que recebeu quatro pessoas infetadas com COVID-19 provenientes do Amadora-Sintra, têm sido várias as unidades a abrir as portas das suas enfermarias para receber estes doentes, nomeadamente, Abrantes.
A acompanhar a visita, o presidente da Secção Regional do Sul, Alexandre Valentim Lourenço, manifestou a sua preocupação com a necessidade de preparar o inverno de forma a que os serviços não entrem em colapso, uma preocupação partilhada pelo bastonário que tem alertado para a importância de assegurar a disponibilidade da vacinação contra a gripe precisamente para que os hospitais não tenham que fazer frente a dois acréscimos de procura em simultâneo: uma potencial segunda vaga da pandemia ao mesmo tempo que acontece o pico da gripe.