Autor: Pedro Jorge Sousa Castro, Médico Interno do 4º ano de Formação Específica em MGF, UCSP Crestuma
Resumo: O artigo pretende abordar os problemas crescentes de insegurança no local de trabalho e risco de agressões sofridas durante a atividade profissional dos médicos, especialmente na Medicina Geral e Familiar.
A notícia de um médico que foi esfaqueado em Peniche enquanto trabalhava veio relançar a discussão sobre o risco de agressão aos profissionais de saúde. Já em maio de 2018 tinha sido muito discutido o caso do Médico de Família que tinha sido agredido a soco, no Centro de Saúde da Chamusca, por se ter recusado a passar uma baixa.
Este é um problema que tem vindo a ganhar maior expressividade nos últimos tempos, pois segundo a DGS, os incidentes de violência contra profissionais de saúde têm vindo constantemente a aumentar, reportando 953 notificações de casos de violência em 2018. A seguir aos enfermeiros, os médicos são o principal alvo de agressões. Esses dados permitem ainda verificar que a maioria das agressões são causadas pelo doente, mas também podem partir dos familiares ou outros profissionais de saúde. Já em dezembro de 2018, a Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar indicava, especificamente em relação aos cuidados de saúde primários, que em 80% das unidades tinham sido registados casos de ameaça ou agressão verbal a profissionais e que em 14% houve mesmo situações de violência física.
As limitações e dificuldades observadas no SNS criam um clima de tensão e conflito com os doentes, promovendo as situações de limite, levando alguns doentes a partir para a agressão, quer seja verbal ou mesmo física. Os médicos, como figuras que dão a cara perante os doentes, mesmo não sendo causadores desses problemas, acabam por levar com a frustração das pessoas.
Estes acontecimentos limitam os médicos na sua atividade profissional, afetando a relação médico-doente. Estas situações criam uma sensação de insegurança nos diferentes profissionais, condicionando a sua prática clínica, levando à medicina defensiva, que muitas vezes leva ao aumento de custos para o SNS e a piores resultados em saúde.
Por outro lado, também tem sido destacado nos últimos tempos o aumento do burnout nos médicos portugueses. O aumento da violência também contribui para o aumento do burnout dos profissionais, resultando no prejuízo da sua saúde e prejudicando a qualidade da assistência fornecida aos doentes.
Assim urge debater este problema de forma muito séria e aberta. É importante encontrar soluções que coloquem um travão nesta escalada de violência contra os médicos e outros profissionais, não só pelo bem de quem trabalha no SNS, como pelo bem de quem é ali assistido.