Recomendação
Escolha não suspender Ácido Acetilsalicílico (AAS) antes de todos os procedimentos endoscópicos.
Justificação
Apesar de existir um risco de hemorragia associada à realização de estudos endoscópicos com finalidade diagnóstica, este é muito baixo, ocorrendo em menos de 1/1000 procedimentos (incluindo quando são realizadas biópsias). Mesmo o caso das endoscopias que incluam procedimentos terapêuticos, como no caso da maioria das polipectomias, apesar do risco hemorrágico ser maior – de cerca de 2-3% – , quando se verifica hemorragia intra ou pós-procedimento, uma proporção significativa são auto-limitadas ou, se necessária intervenção, existem diversas modalidades terapêuticas endoscópicas invasivas que permitem o controlo hemostático, raramente tendo desfechos fatais.
Por outro lado, a suspensão de um fármaco anti-agregante utilizado como profilaxia secundária, aumenta cerca de 3 vezes o risco de eventos trombóticos cardiovasculares ou cerebrovasculares, o que pode acarretar consequências devastadoras e resultar em mortalidade ou morbilidade significativa a longo prazo.
A gestão de antiagregantes e anticoagulantes deve ter em conta o risco cardiovascular e fatores de risco para hemorragia dos doentes individuais, bem como as preferências do doente.
Deste modo, doentes sob ácido acetilsalicílico (AAS) em monoterapia como prevenção secundária, que vão ser submetidos a procedimentos endoscópicos eletivos, devem, na grande maioria das situações, manter a terapêutica com ASA. Duas exceções, nas quais está recomendada a suspensão temporária do AAS, incluem a realização de ampulectomia endoscópica ou de disseção endoscópica da submucosa. Nos casos em que se opte pela suspensão da AAS, esta deve ser reiniciada precocemente, em 48-72 horas.
Já nos doentes sobre dupla antiagregação, deve manter-se o AAS, suspendendo-se temporariamente o segundo anti-agregante (10 dias antes no caso da Ticlopidina ou 7 dias antes para os inibidores do recetor da P2Y12 – Clopidogrel, Prasugrel ou Ticagrelor) nos doentes que vão ser submetidos a procedimentos (potencialmente) terapêuticos.
Nos casos dos doentes sob AAS como profilaxia primária, este deve ser suspenso antes de procedimentos endoscópicos com alto risco hemorrágico (com intuito terapêutico), uma vez que o risco hemorrágico demonstrou ser superior ao potencial benefício cardiovascular.
A informação apresentada nesta recomendação tem um propósito informativo e não substitui uma consulta com um médico. Caso tenha alguma dúvida sobre o conteúdo desta recomendação e a sua aplicabilidade no seu caso particular, deve consultar o seu médico assistente.
Bibliografia
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Uma recomendação de:
Colégio da Especialidade de Gastrenterologia da Ordem dos Médicos
Choosing Wisely Portugal
Escolhas Criteriosas em Saúde