No Dia Mundial do Médico de Família, que se assinalou a 19 de maio de 2024, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) organizou um encontro subordinado ao tema “planeta saudável, pessoas saudáveis” no qual a Ordem dos Médicos esteve representada ao mais alto nível pelo seu Bastonário. Carlos Cortes aproveitou a ocasião para enquadrar a relevância que a instituição atribui a estas matérias da saúde circular ou “one health”: “temos a perfeita noção que tudo no mundo está construído em vasos comunicantes – saúde humana , animal e climática”. Por isso mesmo, a Ordem dos Médicos promoveu uma reunião de todas as Ordens da Saúde com as quais elaborou um documento com essa visão abrangente além de ter criado no seio da própria instituição um grupo de trabalho sobre o conceito “one health” pois estes desafios, não sendo recentes, ainda continuam a precisar de ser aprofundados.
Também Nuno Jacinto, presidente da APMGF, explicou como a especialidade tem este sentimento de pertença em relação ao “one health”, razão pela qual a associação também “tem um Grupo de Estudos dedicado ao conceito One Health, até porque os médicos de família sentem esta problemática como sua”, enquadrando como estes especialistas têm “perceção da imperiosidade de olharmos para a saúde humana, animal e ambiental como dimensões interligadas”. Nuno Jacinto considerou, por isso, que a escolha da Wonca para o lema do Dia Mundial do Médico de Família 2024 – “planeta saudável, pessoas saudáveis” – foi extremamente oportuna.
Questionada sobre se estamos preparados para novas emergências de Saúde Pública, a Diretora Geral de Saúde, Rita Sá Machado, frisou que pelo menos “do lado do sistema de saúde, continuamos em fase de preparação para novas ameaças”. Entre essas potenciais ameaças, ligadas ao conceito de uma só saúde, a Diretora Geral exemplificou com as doenças transmitidas por vetores lembrando que “em território nacional já temos a identificação do mosquito Aedes Albopictus que consegue viver muito bem no nosso ambiente e que se adapta muito bem” pois resiste a oscilações amplas de temperatura. Agora “é importante que nos preparemos, enquanto sistema de saúde, para não termos o mosquito infetado. Até agora, a rede de vigilância mostra-nos que estes vetores não estão infetados com nenhuma doença passiva de ser transmitida”. Ainda assim, explicou, é fundamental preparar os médicos para que se surgir uma pessoa infetada com doenças como dengue ou chikungunya, consigamos “garantir que existem medidas precaucionárias que impossibilitem que tal indivíduo seja vetor de infeção da população de mosquitos”. Na preparação dessas emergências, a DGS vai “muito em breve emitir uma orientação específica sobre esta matéria”.
Carlos Cortes recordou neste encontro com os Médicos de Família como, durante a pandemia, foram os profissionais que representa que souberam dar resposta e reagir à pandemia mesmo no desconhecido que se vivia. Sobre as potenciais ameaças que temos que “saber respeitar”, o Bastonário não escondeu alguma apreensão. “Estou preocupado com o que pode vir… Não no sentido do dramatismo ou do caos, mas no sentido de estarmos alertas. Lamento que a pandemia não tenha sido melhor estudada e que não consigamos dizer o que correu bem e quais os erros que foram cometidos, para estarmos melhor preparados para a próxima pandemia, pois sabemos que ela irá acontecer”.
A propósito da celebração do Dia Mundial do Médico de Família, Carlos Cortes elogiou o trabalho de proximidade desenvolvido por estes especialistas e lamentou que não haja “fatores de atratividade e condições adequadas de trabalho nos CSP”. “Se não houver fatores de atratividade, reconhecimento na carreira e dignificação remuneratória, iremos esvaziar o pilar principal do SNS e dos cuidados de saúde em Portugal” que são os médicos, garantiu o dirigente da OM.