Na abertura da sessão sobre Relações de Poder – Saúde e Bem estar no Internato Médico, o Bastonário, Carlos Cortes, realçou aos colegas o empenho da OM em desenvolver um trabalho de apoio aos médicos, nas diversas fases da carreira, nomeadamente através do GNAM – Gabinete Nacional de Apoio ao Médico. A tertúlia que se realizou no dia 2 de maio foi, conforme frisou o dirigente, um exemplo deste desígnio.
João Redondo, o coordenador do GNAM sublinhou que, para além do investimento na prevenção, este gabinete procura ser um sistema de apoio que “de modo célere” trabalha e resolve as situações que lhe são sinalizadas pelos médicos. Sendo os médicos internos um grupo particularmente exposto a situações que podem provocar desde o simples desconforto ao profundo mal-estar e burnout, o GNAM organizou, em parceria com o CNMI – Conselho Nacional do Médico Interno esta tertúlia, reservada aos médicos, para que de forma simples e sem tabus apresentassem as suas preocupações.
José Durão, Presidente do CNMI, explicou como tem sido sentida a falta de uma plataforma que centralize a informação e que permita um retrato a nível nacional da verdadeira amplitude das situações de assédio no local de trabalho. “Falta implementar estratégias, incluindo ações de formação, para lidar com situações de assédio no local de trabalho e para eliminar quaisquer receios associados à denúncia. Os mecanismos de combate existem e estamos a reforçá-los. É preciso informar e mudar mentalidades”, enquadrou, garantindo que este é um problema muito mais profundo, em que a realidade ultrapassa as poucas denúncias que são registadas. As razões são variadas: os internos sentem desconforto em assumir até entre eles as situações pelas quais estão a passar, ou até em falarem sobre o cansaço que sintam, quanto mais falar dessas situações com os orientadores.
Numa área em que só há a lamentar que continuemos a ser reativos em vez de proativos, foi enaltecida a dinâmica desta e outras iniciativas que este gabinete nacional da OM possa executar. Esta tertúlia e outros trabalhos do GNAM foram considerados essenciais para alertar para a necessidade de mudar essa realidade, assim como a importância fulcral de internos, especialistas e responsáveis da Ordem falarem abertamente destes temas.
Todos os intervenientes concordam que tão importante como existir este Gabinete Nacional de Apoio ao Médico é divulgar a sua existência, dar a conhecer que existem meios de denúncia e que há consequências para os comportamentos, nomeadamente porque o assédio no local de trabalho é um crime tipificado na lei geral.
É preciso um trabalho intenso para mudar mentalidades, formas de pensar e de estar – não basta a existência de códigos de conduta, é preciso sensibilizar todos os envolvidos para esta problemática, para os limites do respeito e da confiança para que ninguém se tenha que sentir mal ao ir para o local de trabalho ou de formação.
E porque conhecer as situações é essencial para o desenvolvimento de estratégias e para que se passe da reatividade à proatividade, esta tertúlia será uma de várias ações do GNAM. “Os mecanismos existem e estão a ser reforçados; é preciso divulgá-los”, frisou José Durão, evidenciando no encerramento desta sessão a importância de os profissionais disporem de mais informação para pôr cobro às situações de assédio, o que se pode ser alcançado de forma mais eficaz se se definirem estratégias que ajudem a eliminar os receios associados à denúncia destas situações. Um primeiro passo é, por exemplo, avançar com iniciativas formativas de combate ao assédio, seja para médicos internos seja para especialistas, para que se consiga produzir a necessária mudança de mentalidades e, além de resolver as situações de assédio que sejam detetadas, trabalhar para impedir que voltem a acontecer.