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Equipa para ser, não só para fazer

Autor: Francisco Coelho

Médico especialista em Medicina Geral e Familiar, Presidente do Conselho Clínico e de Saúde do ACeS Tâmega II – Vale do Sousa Sul e membro da nobox

 

EQUIPA PARA SER, NÃO SÓ PARA FAZER

Quando aceitamos trabalhar em Saúde, certamente não esperávamos que fosse uma ‘volta no parque’. Mas certo também é que poucos são os que esperavam entrar neste carrossel desenfreado, que nos vira do avesso, mas ao qual, tantas vezes sem entendermos bem porquê, regressamos no dia seguinte para repetir a aventura. Em parte, fazemo-lo porque não vamos sozinhos – e, na Saúde, a influência dos pares tem ainda grande peso.

Bem sabemos o desafio que é, atualmente e mais do que nunca, trabalhar em equipa neste setor, sobretudo quando o carrossel, imprevisível na velocidade e no trajeto, não para! As exigências são múltiplas e é inevitável experimentarmos alguma sensação de abandono. É difícil estabelecer espaço e tempo para que as pessoas se conheçam, conectem, relacionem, comprometam e sejam, efetivamente, uma equipa.

Quantas vezes não nos aventuramos a entrar no carrinho de choque com pessoas que, apesar de convivermos regularmente, não conhecemos assim tão bem? Muitas. Mas bem sabemos que é muito mais interessante assumir esse risco com alguém que realmente conhecemos, que nos segura do medo e nos vê como companheiros. Mas ‘não temos tempo’, dizemos – que a Saúde não espera que os profissionais se conheçam.

 

MAS, AFINAL, O QUE É UMA EQUIPA?

São várias as definições para o conceito de equipa, no entanto, uma das melhores é a que a caracteriza como um conjunto de indivíduos diferentes que:

  • São interdependentes nas suas tarefas [e esta é, talvez, a condição-chave], ou seja, o trabalho de um impacta no desenvolvimento das tarefas do outro;
  • Têm um objetivo comum, para o qual convergem os seus esforços: mais do que o que cada um acha que tem que fazer, estão alinhados com aquilo que foi definido como meta a alcançar pelo todo;
  • Partilham responsabilidades pelos resultados obtidos;
  • Para além disso, constituem uma espécie de entidade social própria [reconhecida por si mesmos e pelos outros], em que o tal ‘todo’ é maior do que as partes.

A existência da uma boa relação entre indivíduos cujas funções são dependentes entre si, tende a fomentar o trabalho colaborativo e a partilha de informação e da tomada de decisão. Cria envolvimento e corresponsabilização. Permite otimizar tempo, recursos, conhecimentos e vantagens da ação de uns e de outros, com base nas suas capacidades específicas.

Um bom exemplo é o das consultas conexas [ou em binómio] médico/enfermeiro numa microequipa de uma Unidade de Saúde Familiar (USF): quando bem estruturadas, o trabalho feito por um não precisa ser repetido pelo outro; existe uma complementaridade baseada nas competências específicas de cada um que, em sinergia, promovem uma melhor prestação de cuidados de saúde.

 

SE JÁ TRABALHAMOS EM GRUPO, PORQUE PRECISAMOS DE SER EQUIPA?

Os benefícios de trabalhar em equipa são múltiplos.

A criação de percursos de atendimento do doente mais uniformes é uma prova disso, constituindo, inclusive, uma importante vantagem quando se pretende monitorizar a qualidade dos serviços prestados. No processo de Acreditação das USF, por exemplo, a existência destes percursos é valorizada, uma vez que tende a melhorar a integração do utente no circuito de atendimento, facilita o reconhecimento das tarefas individuais que se correlacionam com as de outros profissionais da equipa, e permite trabalhar num ciclo de melhoria contínua de qualidade. Percebe-se, assim, que outros benefícios resultantes do trabalho em equipa se relacionam com uma tendencialmente melhor experiência do doente ao longo do circuito de prestação de cuidados, e, ainda mais importante, com melhores outcomes clínicos, sendo estes fundamentais na avaliação da eficiência das equipas e dos serviços (por exemplo, através dos indicadores de desempenho).

Para além de tudo isto, sabe-se também que, quando o trabalho é colaborativo, habitualmente existem menores períodos de espera e há uma melhor rentabilização dos recursos disponíveis (sobretudo dos recursos humanos).

 

PORTANTO, A EQUIPA É MAIS DO QUE O GRUPO.

Esta é mesmo a principal mensagem a reter! A equipa é a potenciação das competências e das habilidades e o robustecimento das resoluções. E quem ganha, no final? Todos, claro: os profissionais de saúde, porque se sentem valorizados e integrados; as equipas, porque se tornam mais coesas e capazes; e os utentes, porque beneficiam dos ganhos que daqui emergem.

Podemos dar voltas e voltas no parque, ficar virados do avesso ou ter pequenos choques com os carrinhos, no entanto, quando verdadeiramente em equipa, percebemos que estamos na Saúde para fazer, sim, para fazer bem, claro, mas também para ser. Equipas que se permitem ser são equipas que se engrandecem – porque a empatia gera coesão e a coesão gera eficiência. Se, enquanto pessoas, queremos ser e não apenas fazer, não devemos querer menos para as equipas onde somos, estamos e fazemos.

Se quiser aprender mais sobre este tema, aceda ao link https://academia.nobox.pt/course/construcao-equipa s-coesas.