O Fórum das Ordens Profissionais, promovido pela AGEAS Seguros, decorreu no passado dia 28 de novembro, uma conferência dedicada aos desafios e oportunidades da Saúde em Portugal.
Fernando Santos, responsável Ordens Profissionais do Grupo Ageas Portugal, deu as boas vindas a todos os participantes enaltecendo a disponibilidade em se juntarem neste debate tão importante. No primeiro painel participaram Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos, Adalberto Campos Fernandes, ex-Ministro da Saúde, médico especialista em Saúde Pública, Gustavo Barreto, membro da Comissão Executiva do Grupo Ageas Portugal e Maria de Belém Roseira, ex-Ministra da Saúde.
Carlos Cortes começou por enquadrar os desafios num contexto de saúde global que não podemos ignorar lembrando que, cada vez mais, só faz sentido uma saúde em que se aplique o conceito “one health”: “a saúde não são só os hospitais e centros de saúde, mas todas as determinantes que nos envolvem, da habitação ao desporto”, mencionou, só para citar alguns exemplos. Qualquer desenvolvimento em saúde depende de ultrapassarmos outro grande desafio que o Bastonário da Ordem dos Médicos fez questão de trazer ao debate: a importância da informatização e a obtenção de dados/informação em saúde seja para o desenvolvimento de uma medicina com qualidade, seja para a investigação ou o ensino. Questionado sobre o porquê de alguns problemas em saúde se ‘arrastarem’ há anos, Carlos Cortes considerou que “muito pouco se tem feito na área da prevenção”, área essencial, mas que “nunca foi uma grande aposta política”. “Hoje o SNS é um grande serviço de urgência e essa não é nem deveria ser a sua única função”, enquadrou o Carlos Cortes, ideia que reforçou com a evidência estatística: “com 10 milhões de habitantes, Portugal tem mais de 6 milhões de episódios de urgência”, número que gera uma pressão assistencial que é desestruturante dos cuidados de saúde pois retira recursos à consulta, aos exames, etc.
Maria de Belém Roseira mencionou o desafio do envelhecimento populacional e da transição demográfica e a pressão que gera sobre o sistema de saúde que tem que se organizar para dar uma resposta às necessidades da população. Frisando a importância do registo de saúde eletrónico, Maria de Belém Roseira alertou que a repetição de exames desnecessários (que acontece também por falta desse registo) é “um problema ético” pois sujeita as pessoas a riscos desnecessários.
Já Adalberto Campos Fernandes, recordando a narrativa da necessidade de fechar serviços de proximidade em Portugal, frisou que “é preciso evitar reformas tipo ‘Ambrósio: apetece-me algo’ e não acordar um dia e avançar para o encerramento arbitrário de serviços de proximidade”, referiu, demonstrando a sua discordância do encerramento de serviços de proximidade como eram os SAP. Sobre o desafio de adaptação do sistema de saúde, o ex-Ministro lembrou que desde o 25 de abril de 1974 “já morreram 5 milhões e nasceram 4 milhões de pessoas em Portugal” o que deixa claro que “o país de 2023 não é o país de 1974” e que não podemos equacionar soluções baseadas apenas “no nosso modelo de aprendizagem ou nas nossas preferências”.
Gustavo Barreto frisou a complementaridade entre setores para a construção de um sistema de saúde mais eficaz e com melhor capacidade de resposta defendendo que “todos devemos fazer um esforço de aumentar a literacia em saúde para ajudar a que todo o sistema seja mais eficiente e se reduza a pressão”. Os seguros de saúde privados, que cresceram 120% nos últimos 10 anos, cobrem já 3 milhões de portugueses e têm um impacto que considera muito positivo nos cuidados prestados à população.
A sessão foi moderada pelo jornalista fundador e apresentador de “A Cor do Dinheiro”, Camilo Lourenço, que recordou que a relação entre AGEAS e Ordem dos Médicos, parceiros nesta conferência, remonta a 1979.
Um segundo painel contou com os contributos de José Fragata, co-Diretor do Centro do Coração e Coordenador da Cirurgia Cardíaca do Hospital CUF Tejo, José Gomes, membro da Comissão Executiva do Grupo Ageas Portugal, Rui Diniz, Presidente da Comissão Executiva CUF e Sara Fernandes, coordenadora SPMS, EPE – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde.