A Operação Nariz Vermelho (ONV) celebra 20 anos a levar alegria às crianças hospitalizadas, aos seus acompanhantes e aos profissionais de saúde através da arte do Dr. Palhaço.
A arte do Dr. Palhaço em Portugal surgiu muito antes da ONV com Beatriz Quintella, que seguindo o exemplo de muitos projetos similares já existentes noutros países – como o Big Apple Circus, em Nova Iorque, e os Doutores da Alegria, no Brasil, – voluntariou-se no hospital Dona Estefânia para levar alegria às crianças hospitalizadas.Em 2002, com a ajuda de dois amigos, Beatriz Quintella fundou a Operação Nariz Vermelho, uma instituição que hoje em dia presta serviços em 17 hospitais portugueses, presidida pela sua filha, Luiza Teixeira de Freitas.
Em entrevista à Ordem dos Médicos, a atual presidente da ONV, revela que a maior dificuldade que a instituição enfrenta atualmente é fazer com que as pessoas compreendam que a função do Dr. Palhaço não se trata de um trabalho voluntário, mas sim profissional e remunerado. “É necessário um processo de consciencialização da sociedade de que isto é um trabalho profissional e remunerado, porém é um trabalho que é oferecido por nós aos hospitais.”
Ao longo dos últimos 20 anos a instituição tem-se guiado sempre pelos mesmo valores e diretrizes. “Os valores que nos guiam são a excelência, a generosidade, tanto nossa como dos profissionais de saúde que nos deixam entrar, que nos integram cada vez mais nas suas equipas enquanto parte delas, fazendo-nos sentir necessários e essenciais”, afirma Luiza Teixeira de Freitas. No entanto, a participação do Dr. Palhaço no percurso hospitalar das crianças tem evoluído e mudado muito. “Neste momento nós já fazemos o acompanhamento das crianças no bloco operatório. Desde o momento em que a criança deixa os acompanhantes, é totalmente acompanhada pelos Drs. Palhaço até à anestesia. Inicialmente só íamos até ao momento que se fazia a separação, depois começámos a ir até à porta, até ao momento atual em que os profissionais de saúde nos pedem para entrar. O Dr. Palhaço está com a criança até ao momento em que ela adormece, sendo que adormece mais calma e descansada.”
Em 2020, quando a pandemia de Covid-19 se instalou no mundo inteiro, os contactos nas unidades de saúde foram reduzidos apenas ao indispensável, deixando de fora os Drs. Palhaço. “Os pensamentos foram diferentes dentro da organização, porém acho que o primeiro pensamento foi o pânico!”, relembra. “Contudo, tínhamos de reagir! Reunimos em plano de crise e em menos de uma semana tivemos uma estratégia: nascendo assim a TVONV.” A TVONV foi, então, a primeira solução que a Operação Nariz Vermelho orquestrou para chegar às crianças hospitalizadas. “Eram vídeos feitos pelos Drs. Palhaço nas suas casas, todos em teletrabalho, não houve uma única pessoa em layoff porque trabalhamos a pandemia inteira. Lançávamos vídeos de 3 minutos 2 vezes por dia no nosso canal de Youtube e foi muito bom porque acabou por chegar a muitas crianças que mesmo não estando doentes, estavam isoladas nas suas casas.”
Contudo, um dos projetos mais inovadores e impactantes veio a surgir pouco tempo depois. A ONV desenvolveu um projeto intitulado Palhaços na Linha (PNL) que “eram basicamente tablets pendurados em carrinhos de soro levados pelas educadoras ou enfermeiras às crianças”, esta iniciativa possibilitou não só que chegassem aos hospitais nos quais já atuavam, mas também que começassem a testar a possibilidade de o usar noutras unidades nas quais ainda não tiveram possibilidade de chegar, como por exemplo, o hospital de Vila Franca de Xira.
a ação dos Drs. Palhaço, Luiza Teixeira de Freitas relembra sempre que a principal missão dos artistas é receitar alegria, porém focam muito o empoderamento a da criança. “Quando a criança é hospitalizada ela deixa de ter a possibilidade de ter, fazer e escolher imensas coisas. Tudo muda, deixa de ter uma vida normal e nós trazemos o que o há de normal, nós damos possibilidade de escolha, nunca entramos no quarto de uma criança sem autorização dela. A criança não pode escolher o tratamento, mas pode-nos escolher a nós. Pode totalmente dizer que não quer o nosso trabalho, isso é empoderar uma criança.” Apesar de trabalharem num cenário tendenciosamente mais emotivo e doloroso, tendo sempre consciência e respeito sobre o estado e a condição de cada criança, “quando entram esquecem que a criança está doente. Focam-se apenas na alegria, no sorriso e no lado positivo. Os Drs. Palhaços entram e transformam o momento, trazem alegria e felicidade à criança nem que seja momentâneo. Às vezes a transformação que os Drs. Palhaços fazem durante 5 minutos pode durar uma semana inteira e têm impacto também nos acompanhantes e nos profissionais de saúde.”
Em relação ao seu papel e percurso na ONV, Luiza relembra que está ligada ao projeto desde o primeiro dia por causa da sua mãe, todavia só tomou posse do cargo em 2020. Revela que existiram muitos momentos marcantes que vivenciou sem estar na presidência, mas admite que “apesar de todas as celebrações serem alturas muito importantes, acho que as experiências mais marcantes que vivemos é quando chegamos a mais um hospital e conseguimos alargar mais a nossa área de ação, porque na verdade o nosso objetivo é que nenhuma criança em Portugal tenha de passar pelo processo sem lhe ser receitada alegria.”
Na celebração dos 22 anos da ONV a instituição organizou um espetáculo de teatro musical intitulado “Compasso de Palhaço – Pequena Sinfonia das Horas Vagas” e uma exposição interativa intitulada “Da ponta do Nariz ao Sorriso de uma criança”, que pretende dar a conhecer um pouco da história da fundação e incita os visitantes a interagir com ela. Ambos serão exibidos durante os próximos meses nos hospitais parceiros da ONV.