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Decorreu terça-feira, 18 de março, no Parlamento Europeu em Bruxelas, uma conferência promovida pela UEMO – União Europeia dos Médicos de Família sobre os desafios presentes e futuros enfrentados por esses profissionais na Europa. As dificuldades no acesso à informação de forma a sustentar a tomada de decisão e a necessidade urgente de encontrar estratégias para motivar os mais novos a escolher esta carreira são alguns dos temas em análise num encontro promovido pela atual direção da UEMO que inclui três médicos portugueses: Tiago Villanueva, Presidente, Catarina Matias, Secretária-Geral e Pedro Fonte, Tesoureiro.

Romana Jerković, Deputada do Parlamento Europeu, que acolheu a reunião frisou que “Nenhum médico deveria ter que escolher entre a sua profissão e o seu bem-estar” e defendeu que a Inteligência Artificial seja usada de forma construtiva pois pode ajudar muito os médicos, “eliminando duplicação e trabalho burocrático desnecessário”.

Catarina Matias que moderou a mesa sobre recrutamento e retenção de médicos de família na Europa resumiu esta problemática evidenciando que, mais que a medicina centrada no doente, o que se pretende é “uma medicina centrada na pessoa, seja essa pessoa o doente, seja o médico”. A Secretária-Geral da UEMO alertou que não podemos continuar a guiar-nos por indicadores de procedimentos. “É essencial que nos centremos nos resultados”.

Também o eurodeputado e ex-Comissário Europeu da Saúde, Vytenis Povilas Andriukaitis evidenciou algumas fragilidades da saúde, nomeadamente a nível extranacional onde a atenção a estes dossiers não é suficiente. Este membro do Parlamento Europeu conhece bem esta realidade que definiu numa afirmação: “os médicos de família são muito poucos, estão muito longe e estão muito velhos” (“Too few, too far, too old”, disse). Com a Europa a atravessar aquela que considera ser a maior crise de sempre quanto ao número de médicos de família disponíveis nos sistemas de saúde, “faz falta uma política forte pois face aos enormes desafios que estamos a enfrentar, daqui a 5 anos será um desastre!” Andriukaitis lembrou quão difícil é “convencer os jovens a escolherem ser médicos”, defendendo que este é o momento de envolver a sociedade e mobilizar as pessoas porque só a vontade da política não está a chegar. O deputado europeu deu um exemplo da desvalorização da prevenção, evidenciando como o ECDC – Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças não inclui o “P” na sigla...

Álvaro Cerame, presidente da EJD – Associação Europeia de Jovens Médicos (European Junior Doctors’ Association) apresentou a perspetiva das faixas etárias mais baixas que desejam uma mudança de paradigma. “Os médicos mais novos querem trabalhar menos horas e maior flexibilidade”, em resumo, “tempo para ter uma família”, explicitou. Quanto às medidas que os Governos têm aplicado para fazer face à necessidade premente de atrair e fixar médicos, Álvaro Cerame não tem dúvidas que a eficácia é limitada pois se só se aplicam “medidas transitórias” em vez de estruturais, “quando essas medidas excecionais terminam, as dificuldades de contratação voltam”

Na sua intervenção, Sara Ares, da WONCA – Organização Mundial dos Médicos de Família, lamentou que haja falta de dados estruturados o que gera dificuldades quando se pretende monitorizar as necessidades em saúde. Para esta especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF) é preciso mais investimento em sistemas de informação de forma que todos os países possam partilhar dados sobre os mesmos indicadores, facilitando a definição de estratégias comuns eficazes. “É preciso harmonizar”.

Também durante esta sessão, teve lugar uma mesa-redonda sobre políticas e ação que são necessárias para os Médicos de Família europeus, durante a qual foi analisada a inconsistência do reconhecimento generalizado da MGF como especialidade. Este debate foi moderado por Tiago Villanueva, presidente da UEMO e contou com as participações de Katarzyna Ptak-Bufkens da Comissão Europeia, Călin Bumbuluț e Ole Jan Bakker, médico de família e Presidente da CPME. A representante da Comissão Europeia considerou que a solução tem que passar por melhores políticas de forma a inspirar o interesse dos jovens em escolherem a profissão médica. “Conhecemos os desafios e as potenciais soluções; (...) não devemos subestimar os esforços que já estão no terreno” mas antes procurar inspiração, “analisando o que pode ou não ser replicado com sucesso noutros países”.

Tanto ao atual como o ex-Presidente da UEMO referenciaram questões relacionadas com o reconhecimento de MFG como uma especialidade bem como algumas dificuldades de reconhecimento para especialistas em alguns países. Vários intervenientes concordaram que os governos não estão a dar a devida atenção à gravidade da situação e que nada está a mudar, considerando que os médicos de têm que se fazer ouvir.

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