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A próxima geração médica reflete de forma criativa sobre telemedicina

Autor: Miguel Borges Santos

Especialidade: Cardiologia

Afiliação: Centro Nacional de TeleSaúde (CNTS) – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, E.P.E.*

*afiliação à data da submissão deste artigo

 

Resumo:  A telemedicina é a prestação de cuidados médicos de forma remota, e será inequivocamente, e de forma crescente, uma parte da atividade médica no futuro. Apresentam-se as ideias sobre este tema geradas por um grupo de futuros médicos durante o Congresso Nacional de Estudantes de Medicina de 2019.

 

Clarificação de conceitos

Começou-se pela clarificação de conceitos por um método expositivo. A telemedicina é a prestação de cuidados médicos de forma remota. A telessaúde* é a utilização das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas vertentes da prestação de cuidados, organização dos serviços e da formação de profissionais de saúde e cidadãos. eSaúde (eHealth) é o conceito mais lato, que compreende a melhoria da promoção, educação e gestão de saúde, assim como todo o ciclo de saúde, através das TIC. Os recentemente publicados Plano Estratégico Nacional para a Telessaúde (PENTS) 2019-2022, o Preparing the healthcare workforce to deliver the digital future do NHS britânico e as Recommendations on digital interventions for health system strengthening da OMS são fontes adicionais de informação.

Descreveram-se de seguida os diferentes tipos de teleconsulta (médico-médico, médico-doente, em tempo real, em tempo diferido), com as respetivas vantagens e limitações ao nível da acuidade diagnóstica e relação médico-doente. Existente em Portugal desde 1998, a teleconsulta ainda não está generalizada; os futuros avanços tecnológicos a nível de software e hardware vão permitir a sua implementação mais ampla. Ainda de forma expositiva, enumeraram-se vários exemplos de sucesso de telemonitorização, telerrastreio e telediagnóstico a nível nacional, assim como a já ampla carteira de serviços digitais da SPMS. Finalmente, elencou-se de forma sumária a variedade de sites, aplicações móveis, avaliadores de sintomas, chatbots, wearables e dispositivos de diagnóstico médico remoto atualmente disponíveis.

 

Design thinking

A utilização regulada da criatividade para desenvolver soluções e ideias tem atualmente o nome de design thinking. Para este workshop optou-se pela metodologia dos Six Thinking Hats, criada pelo médico Edward de Bono em 1985, que permite que cada participante consiga dar um contributo sobre cada perspetiva do problema em questão. Cada participante, em simultâneo com os restantes, sequencialmente ouve os factos, expõe as suas ideias pré-existentes (inclusivamente os seus preconceitos), analisa vantagens e valor potencial, gera novas ideias sobre como desenvolver o tema e por fim desenvolve planos de mitigação dos riscos (backup). Para a geração de novas ideias (que pode ser bastante difícil consoante a personalidade e criatividade individual) parte-se de premissas extremas tais como a ausência de limites físicos do SNS ou capacidade tecnológica. Os 31 participantes foram divididos em pequenos grupos e discutiram como promover o bem-estar e o empowerment na saúde no cidadão sub-35 com recurso à tecnologia (Figura 1).

Figura 1.

 

Contributos dos futuros médicos

Partindo de um nível básico de conhecimento sobre estes conceitos inovadores, até disruptivos, os participantes expressaram claramente ideias pré-existentes que serão comuns à maioria da classe médica. O ceticismo em relação à limitação da comunicação não-verbal, assim como a realização do exame físico por intermédio de gadgets manipulados pelos doentes, são compreensíveis e devem preocupar qualquer médico. Nesta fase, importa perceber que estas preocupações nos devem guiar na modelação da inovação, e não a evitá-la a todo o custo. Como por vezes é difícil deixar de estar focado apenas nas barreiras, é fácil perceber a vantagem da metodologia de workshop: depois de todos refletirem sobre as barreiras, todos conseguiram refletir sobre potenciais vantagens. Nesta fase, o valor da telemedicina e telessaúde emergiu, nomeadamente a nível de rapidez, equidade, comodidade e eficiência. Seguiram-se ideias muito criativas e inovadoras, algumas das quais provavelmente já foram pensadas e estarão até em fase de desenvolvimentos, mas podem ser verdadeiramente originais. Para que toda a comunidade médica possa beneficiar do pensamento deste grupo de futuros médicos, apresentam-se os contributos na Tabela 1 (inputs semelhantes foram condensados). Mostrando uma maturidade inequívoca, foram propostos planos de backup, tendo sido sobretudo repetidos os receios sobre a cibersegurança.

 

Impressão final

O feedback dos participantes foi, nas palavras da organização, extremamente positivo. Da parte do CNTS/SPMS fica também a nítida sensação de que o futuro da Medicina Digital em Portugal estará muito bem entregue.

 

*Com o Acordo Ortográfico de 2009, Telessaúde é forma correta de escrita deste vocábulo. Por uma questão relacionada com a apresentação gráfica, optou-se pela escrita TeleSaúde no nome do CNTS.

 

Referências: