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Madeira: saída do diretor clínico era a única solução

A caminho do quarto diretor clínico em menos de quatro meses, na Madeira nem sempre se têm cumprido os trâmites legais para a nomeação da Direção Clínica do SESARAM. Foi precisamente essa a principal crítica dos médicos que se opuseram ao mais recente nomeado: o médico ortopedista Mário Pereira, que foi escolhido alegadamente por razões políticas. Com apresentação da demissão por parte de quase 3 dezenas de médicos pelo meio, reuniões de protesto e uma visita à região autónoma do bastonário da Ordem dos Médicos, a situação resolveu-se, com a exoneração do diretor clínico. Nessa visita, Miguel Guimarães havia afirmado perentoriamente que a única solução aceitável seria precisamente a saída de Mário Pereira. A 27 de fevereiro, apenas 20 dias depois de ter iniciado funções, o diretor clínico publicou, através do CDS, um comunicado onde anunciou o seu pedido de exoneração do cargo.

A 21 de fevereiro, 4 dias depois de um grupo de médicos do Sesaram terem “exigido a demissão imediata” do diretor clínico, o bastonário foi pessoalmente à Madeira e reuniu com os médicos, mas também com o Conselho de Administração e Direção Clínica do Hospital Dr. Nélio Mendonça, bem como com o Secretário Regional da Saúde, Pedro Ramos, deixando vários apelos, recomendações e desafios:

– que os diretores de serviço demissionários retrocedessem na sua decisão, se lhes for dada a oportunidade de darem um parecer sobre a escolha de um novo diretor clínico;

– que a tutela fizesse uma consulta interna aos médicos para a nomeação do diretor clínico, garantindo assim uma escolha interpares, o que tem sido, aliás, uma das sugestões que a Ordem dos Médicos tem vindo a apresentar reiteradamente;

– sugestão de que a saída de Mário Pereira da direcção clínica do SESARAM seria a única solução para a situação gerada.

“Esta não é uma solução nova [a escolha interpares do diretor clínico], fazia-se no passado e é uma solução para desfazer todas as dúvidas. É importante que os médicos anulem o seu pedido de demissão, mas, em contrapartida, que seja feita uma consulta a todos os médicos sobre quem é que deve ser o diretor clínico”, defendeu Miguel Guimarães. Já em declarações aos jornalistas, o bastonário afirmou que o importante “é que os médicos que estão na Madeira, e que fazem um trabalho extraordinário, continuem a trabalhar da mesma maneira e que não saiam para o setor privado e deixem o setor público, porque se começa a acontecer na Madeira aquilo que tem acontecido no continente, é uma desgraça”.

É a própria imprensa regional que classifica agora a saída de Mário Pereira como diretamente relacionada com a força destas declarações e com “a pressão dos diretores de serviço e o clima de grande instabilidade vivido no interior do serviço de saúde”.

Na sequência da visita do bastonário e da contestação generalizada dos médicos, que originaram o abandono do diretor clínico, o executivo terá, aparentemente e conforme noticiado pela imprensa regional percebido que não existe “margem para novos experimentalismos” e que a escolha terá agora que recair num diretor clínico “que não será contestado pelos médicos”.

O bastonário da Ordem dos Médicos fez questão de salientar em diversas intervenções o sentido de união que os médicos da Madeira demonstraram e que permitiu reverter a nomeação de um diretor clínico que não mobilizava os profissionais de saúde e que poderia comprometer a qualidade dos cuidados de saúde prestados aos doentes da região. Para Miguel Guimarães este é um momento muito importante para a Madeira, mas também para todos os médicos portugueses, reforçando-se a ideia de quando a classe se une em torno de causas justas consegue ser ouvida e influenciar positivamente as decisões em saúde.

Miguel Albuquerque presidente do Governo Regional Já afirmou que vai recorrer ao diálogo para resolver o impasse e que a substituição do diretor clínico será tratada com “calma, ponderação e bom senso”. À Lusa disse ainda que “O diretor clínico nomeado entendeu que não tinha condições para exercer o cargo e apresentou a demissão. Iremos encontrar uma solução como sempre encontramos, numa plataforma de diálogo, entendimento e cooperação entre todos os agentes da saúde na Madeira”. Dedicidos a não vão apresentar qualquer lista de possíveis candidatos, a não ser que lhes seja pedido pelo conselho de administração do SESARAM ou pela Secretaria Regional da Saúde, os médicos da Madeira aguardam que o conselho de administração, “ouvindo quem tem de ouvir”, cumpra a lei e proponha um nome à Secretaria Regional de Saúde.