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Ventilação mecânica

Autor: Joaquim J. Figueiredo Lima, anestesiologista

Este trabalho é a síntese de um processo, que se baseia na substituição da função respiratória fisiológica por métodos alternativos, especialmente, por máquinas complexas designadas por “Ventiladores”. Trata-se, portanto, de um conjunto de informações genéricas, que permitem, por um lado, esclarecer o leitor e, por outro, estimular para novas e mais profundas leituras.

 

Indicações

A Ventilação Mecânica é um método invasivo, que exige a manutenção de um acesso direto à Traqueia, sobretudo, por Intubação Traqueal (oro ou nasofaríngea) ou, raramente, por Traqueostomia.

Fig.1 – Doente conectado a Ventilador

         (http://angomed.com/demora-no-desmame-da-ventilacao-mecanica-e-risco-de-mortalidade/vm/)

Este método ventilatório deve ser considerado, sempre que se verifique que o doente tem a via aérea obstruída ou que é incapaz de manter a respiração espontânea e se observam sinais clínicos e laboratoriais compatíveis com dificuldade ou incapacidade respiratória.

Exemplos:

– frequência respiratória superior a 30 ciclos/minuto (polipneia);

– frequência respiratória inferior a 10 ciclos/minuto (dispneia);

– períodos recorrentes de paragem respiratória (apneia);

– incapacidade para manter a saturação de Oxigénio (O2), apesar    de estar submetido a oxigenoterapia (60%) (oximetria);

– redução de saturação arterial de oxigénio (gasimetria arterial).

A decisão de introduzir um doente em Ventilação Mecânica deve ser baseada na observação do quadro clínico global, de forma a ser iniciada tão precocemente quanto possível. Não deverá ser retardada, face às consequências clínicas resultantes da hipo- oxigenação!

 

A ventilação mecânica

Os cuidados assistenciais a assumir em doentes submetidos a Ventilação Mecânica resultam do conhecimento da situação clínica e do equipamento que se irá utilizar, da monitorização da unidade doente-ventilador e da experiência profissional no modo de ventilação que se pretende instituir!

Trata-se, portanto, de um ato clínico que deverá ser efetuado em local adequado (Unidades de Cuidados Intensivos) e gerido por profissionais (médicos e enfermagem) experientes neste tipo de terapêutica.

Basicamente, os Ventiladores são calibrados para fornecer um volume gasoso constante (ciclados por volume) ou por uma pressão constante (ciclados por pressão) ou por uma combinação de ambas. Por vezes, introduz-se no programa ventilatório algumas características específicas em função da situação clínica (ex.: PEEP – pressão positiva no final da expiração).

As calibrações de um Ventilador diferem, conforme o modo de ventilação pretendido. Todavia, incluem, sempre, o volume corrente adequado a cada doente, a frequência respiratória pretendida e a relação entre a inspiração e a expiração.

Estas calibrações deverão ser efetuadas por profissionais experientes e, sempre, em função da situação clínica!

Fig.2 – Ventilador

(https://www.aconteceuemjoinville.com.br/2020/04/18/mais-tres-respiradores-pulmonares-sao-entregues-pelos- institutos-senai/)

 

Fármacos

Embora alguns doentes possam suportar a Ventilação Mecânica, através de intubação traqueal, sem sedação, a maior parte dos pacientes necessita de sedação profunda e bloqueio da respiração espontânea, vulgarmente, denominada por “coma induzido”!

Para ser obtida essa situação clínica administram-se, geralmente, fármacos de diversos grupos farmacológicos:

– sedativos (benzodiazepinas: ex.- midazolam);

– indutores do sono e da inconsciência (ex.- propofol);

– analgésicos opióides (ex.- morfina, fentanil, etc.);

– bloqueadores neuromusculares (ex.- atracúrio, pancurónio, etc.).

Estes tipos de fármacos destinam-se, exclusivamente, a permitir a ventilação controlada, sem qualquer reacção do doente. Não impedem, nem substituem quaisquer terapêuticas utilizadas no tratamento de outras situações clínicas basais ou intercorrentes.

 

Complicações

As potenciais complicações, frequentemente, observadas nos doentes submetidos a Ventilação Mecânica podem, genericamente, dividir-se em três grupos:

– resultantes da Intubação Traqueal (lesões traumáticas);

– resultantes da Ventilação (pneumotórax, infeções, etc.);

– resultantes da Imobilização (embolismo, escaras, etc.).

As complicações resultantes destes e de outros atos clínicos devem ser, atempadamente, diagnosticados e tratados, na medida em que, podem condicionar o prognóstico da patologia que motivou a Ventilação Mecânica.

 

Desmame da Ventilação Mecânica

O processo de “desmame” do ventilador exige rigor na avaliação clínica e laboratorial e, portanto, deverá ser assegurada por profissionais experientes neste contexto.

Os procedimentos destinados a retirar um doente da Ventilação Mecânica, devem ser iniciados após serem constatadas as seguintes observações clínicas:

– retorno da ventilação espontânea;

– estabilidade hemodinâmica;

– melhoria da situação clínica basal.

Assim, os critérios básicos para retirar um doente do ventilador baseiam-se em elementos de natureza clínica e laboratorial:

– resolução da etiologia da falência respiratória;

– frequência respiratória espontânea e estável;

– estabilidade hemodinâmica;

– utilização de suporte de Oxigénio (máscara de Oxigénio).

Fig.3 – Máscara para Oxigénio

(https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/05/19/mascaras-de-mergulho)

As técnicas utilizadas para retirar um doente da Ventilação Mecânica são variadas e dependentes da avaliação clínica e da experiência dos profissionais:

–  desconexão brusca do ventilador;

– desconexão gradual, utilizando reforço de Oxigénio em respiração espontânea por períodos intercalares;

– se após a introdução do desmame do ventilador se constatar dificuldade respiratória ou perturbações hemodinâmicas, poder-se-á regressar à Ventilação Mecânica;

– a desconexão da Ventilação Mecânica é regulamentada por protocolos, que todo a equipa assistencial deve conhecer;

– se, após desconectado do ventilador, o doente mantiver uma adequada respiração espontânea, o passo seguinte será a extubação traqueal;

– a vigilância clínica deverá ser mantida na Unidade até se constatar a estabilização da ventilação espontânea.

Cada Unidade e os seus clínicos utilizam os critérios de desmame em que se sentem confortáveis e conseguem individualizar a técnica, em função das patologias do doente.

Segundo alguns autores, estes atos clínicos são um “mister de arte e de ciência!” (Milix-Emili).

 

Bibliografia

https://www.vitalaire.com.br/nossos-servicos-ventilacao-mecanica/ventilacao-mecanica-o-que-e

–  https://blogfisioterapia.com.br/desmame-da-ventilacao-mecanica-invasiva/

–  https://www.sanarmed.com/base-da-ventilacao-mecanica

–  http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?pid=S0874-02832014000100007&script

–  https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/medicina-de-cuidados-cr%C3

https://www.cpaps.com.br/glossario/termo/Ventila%C3%A7%C3%A3o-Invasiv

https://pt.slideshare.net/MarianaArtuniRossi/ventilao-mecnica-bsica-32321961

https://www.institutoepap.com/pos-graduacao-ventilacao-mecanica-ed-lisboa-

https://blog.jaleko.com.br/desmame-do-ventilador/

https://interfisio.com.br/metodos-e-tecnicas-utilizados-para-realizar-o-desmame-da-ventilacao-mecanica-em-pediatria/

https://multisaude.com.br/artigos/desmame-ventilatorio/

https://www.efdeportes.com/efd173/utilizacao-dos-parametros-de-desmame.htm