Nas últimas semanas, de Norte a Sul do país registaram-se vários constrangimentos nos serviços de urgência de vários hospitais. O Hospital de Santa Maria, em Lisboa, registou um tempo médio de espera de 14 horas para atender os doentes.
O tempo de espera registado é superior aos dados referentes ao período antes da pandemia, sendo um dos principais fatores a falta de resposta, sobretudo por escassez de capital humano, dos cuidados de saúde primários. No entanto, também as infeções respiratórias desempenham uma das principais razões da grande afluência.
Em declarações à comunicação social, o bastonário da Ordem dos Médicos afirmou que nesta época do ano as doenças respiratórias têm uma grande prevalência, contudo acredita que existem mais razões para justificar a enorme a afluência aos serviços de urgência.
“É óbvio que na altura do outono-inverno há mais doentes a recorrem ao serviço de urgência porque existem mais doenças respiratórias, como é normal”, afirmou, “porém, existe uma descompensação de algumas doenças crónicas, como é o caso da diabetes, da insuficiência cardíaca e da hipertensão arterial que ficaram para trás durante a pandemia, e ainda estão numa fase de recuperação”.
Para Miguel Guimarães, a grande falta de apoio dada a doenças não-covid nos últimos anos ainda está a ter efeitos no Serviço Nacional de Saúde. “Durante a pandemia houve muitos destes doentes que ficaram sem diagnóstico e outros sem consultas”. Tal facto “ainda está a ter impacto no recurso ao serviço de urgência porque estão a procurar acompanhamento. Alguns destes doentes estão numa fase de recuperação e outros com doença agravada”.
Com as urgências a registar níveis de afluência muito elevados e com os cuidados de saúde primários sem condições para responder aos doentes, o bastonário considera tratar-se de um problema estrutural, que se repete todos os anos.
“Este é um problema que se arrasta, mas que não se resolve. Não basta mudar os políticos, tem de se mudar as políticas. No imediato é importante arranjar soluções, contudo têm de se resolver os problemas estruturais. Muitas das pessoas que recorrem ao serviço de urgência, se tivessem alternativa e se estivessem devidamente informadas, recorreriam a outros sítios”.
Miguel Guimarães considerou, ainda, que os tempos de espera que se têm vindo a registar são muito preocupantes, principalmente, nos grandes centros hospitalares de Santa Maria, em Lisboa, e de Santo António, no Porto, uma vez que são hospitais que recebem doentes de vários sítios e também os casos mais graves.
“Os doentes que têm prioridade, ou seja, com pulseira amarela atribuída, deveriam ser vistos no espaço de uma hora e que já têm um atraso de cerca de quatro horas. O que significa que há doentes urgentes aos quais os hospitais não estão a conseguir responder”.
“Esta é uma situação expectável, que acontece todos os anos, não estamos a falar sobre nada de novo. É preciso de uma vez por todas, resolver o problema de forma estrutural”, concluiu.