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Será o tempo de consulta suficiente?

Autor: Catarina Martins de Macedo, Médica Interna do 4ºano de MGF, USF Pró-Saúde (ACeS Cávado II – Gerês/Cabreira)

 

A duração média das consultas, no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários, tem uma grande variabilidade dentro da Europa. Em Portugal, o tempo de consulta no médico de família é, em média, de 15 a 20 minutos, consoante a unidade de saúde.

A consulta da especialidade de Medicina Geral e Familiar é complexa e detém particularidades que a diferem das restantes especialidades. A consulta inicia-se com a colheita da história clínica e o exame físico, muitas vezes dirigidos a múltiplas queixas que o doente apresenta. Adicionalmente, o doente pode ser seguido em várias consultas hospitalares, pelo que o médico de família tenta aceder ao programa informático Registo de Saúde Eletrónico (RSE®), que muitas vezes se encontra inoperacional.

Os problemas do doente devem ser devidamente codificados segundo a “Classificação Internacional de Cuidados de Saúde Primários” (ICPC-2®) e registados no processo clínico. Simultaneamente, abordamos questões sobre o estilo de vida, tais como consumo de tabaco, álcool e drogas, bem como hábitos alimentares e atividade física, que devemos quantificar e avaliar a motivação para a mudança. De seguida, delineamos um plano, do qual resulta a necessidade de fazer ou não exames complementares de diagnóstico, sempre numa perspetiva de decisão partilhada com o utente.

O receituário exige a utilização de outro programa informático designado de “Prescrição eletrónica de medicamentos” (PEM®), que exige várias vezes a introdução de uma palavra-passe, bem como se encontra inúmeras vezes com falhas eletrónicas, impedindo a prescrição médica eletrónica.

Por fim, a pedra angular da consulta de Medicina Geral e Familiar baseia-se na construção de uma relação médico-doente que prima pela empatia, escuta, compreensão e negociação, ou seja, na humanização dos cuidados de saúde. O tempo de consulta não pode ser decidido sem ter em conta as principais características que definem a nossa profissão.

 

Bibliografia

  1. European definition of general practice family medicine. 3rd WONCA Europe; 2011 – European Academy of Teachers in General Practice/Family Medicine (EURACT). Disponível em: www.woncaeurope.org