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Saúde em Dia – Não mascare a sua Saúde!

Numa iniciativa da Ordem dos Médicos e da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, apoiada pela Roche Farmacêutica, foi hoje apresentada a campanha “Saúde em Dia – Não mascare a sua Saúde”, que visa alertar para as consequências da pandemia no acesso aos cuidados de saúde.

“Se entre 16 de março e 2 de maio houve uma suspensão da atividade não urgente, era expectável após essa fase que se sentisse a recuperação. Mas o que vemos é que continua a haver uma diminuição muito significativa da atividade assistencial”, referiu Joana Sousa da MOAI, contextualizando com os resultados da comparação dos primeiros 7 meses de 2020 com período homólogo do ano passado. Esta análise dos dados oficiais que constam do portal da transparência revelou números alarmantes: quase menos 1 milhão de consultas nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), cifra que agrava substancialmente se tivermos em conta apenas as consultas presenciais: somando cuidados médicos e cuidados de enfermagem nos CSP, verifica-se uma redução 7 milhões de contactos presenciais em apenas 7 meses. Tendência que também se verifica nos cuidados hospitalares, desde consulta e cirurgia programadas a realização de meios de diagnóstico ou idas às urgências. “O decréscimo é generalizado”. Como parte desta iniciativa foi igualmente realizado um estudo sobre a perceção da população em relação ao acesso a cuidados de saúde em tempos de pandemia, cujos resultados preliminares foram apresentados por Francisca Azevedo, da GFK Metris, que explicou a metodologia e robustez do amostra, e apresentou 2 resultados: 94% dos portugueses têm a perceção que usam máscara sempre que saem de casa e 88% sentem confiança nos profissionais de saúde. Os restantes resultados estão a ser compilados e serão apresentados dia 22 de setembro.

No comentário aos dados disponibilizados pela tutela no portal da transparência, Vítor Rodrigues, presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, salientou o “aumento dos pedidos de ajuda, nomeadamente económica e financeira” mas referiu igualmente ter-se notado a “diminuição de todas as atividades assistenciais”: prevenção, diagnóstico, tratamento, com as pessoas a “terem medo de recorrer aos serviços de saúde”.

O  presidente da APAH, Alexandre Lourenço, considera que “este movimento pretende ser um alerta” e frisou que as consultas, tratamentos e exames que não foram realizados, geraram uma situação que “não é recuperável” pois há intervenções que “têm um tempo certo para ser realizadas” e o adiamento faz com que se “percam oportunidades” terapêuticas. Alexandre Lourenço pediu que se trabalhe para “ter um plano” porque “não é no momento de aflição que preparamos a resposta” do sistema de saúde, lembrando que é essencial que essa resposta seja planeada em rede para não se sobrecarregar nenhuma unidade, como tem acontecido, por exemplo, na região de Lisboa.

Cláudia Ricardo, diretora dos assuntos institucionais da Roche, salientou a importância de definir “prioridades e estratégias de atuação”, questionando “onde é que estão estes doentes? Qual vai ser o impacto deste atraso no prognóstico da doença? Como é que vamos recuperar o que não foi feito? Como é que se vai gerar confiança no sistema para que as pessoas voltem aos cuidados de saúde?”.

A libertação do medo, foi precisamente o ponto de partida da intervenção do bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, lembrando que “ter hospitais COVID e hospitais não COVID poderia ter alterado ou atenuado este problema”, como preconizou no início desta crise sanitária; agora, frisando que “não podemos voltar a suspender a atividade assistencial programada”, o que é fundamental é “que nos centremos em salvar vidas”. “Em primeiro lugar devem estar sempre as pessoas” e o humanismo que é alicerce da relação médico-doente, razão pela qual não aceita que se compare uma intervenção telefónica impessoal, “aceitável durante o estado de emergência”, a uma consulta ou à verdadeira telemedicina.

Márcia Roque, presidente da ACSS, em representação do Secretário de Estado e da Saúde, encerrou a sessão sublinhando que esta pandemia tem sido “um desafio à resiliência do SNS” e que agora “importa recuperar e manter a atividade do SNS”, nomeadamente no que se refere às doenças crónicas e à saúde mental, referindo que é essencial manter “uma relação de confiança” para que os doentes recorram aos serviços de saúde.