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Médicos e doentes debatem sobrediagnóstico em saúde

O encontro organizado pelo ISBE –  Instituto de Saúde Baseada na Evidência (das Faculdades de Medicina e Farmácia da Universidade de Lisboa), em parceria com a Cochrane Portugal e o Choosing Wisely Portugal – Escolhas Criteriosas em Saúde* em que se debateu o sobrediagnóstico e as suas potenciais consequências para os doentes contou com a presença e intervenção na abertura de Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, Ana Paula Martins, presidente da direção do ISBE, e António Vaz Carneiro, presidente do Conselho Científico do ISBE, diretor do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública, do Instituto de Saúde Ambiental, do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, diretor-executivo do Instituto de Formação Avançada, diretor da Cochrane Portugal e coordenador do Conselho Nacional para a Formação Profissional Contínua da Ordem dos Médicos.

Na abertura da reunião, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, frisou a importância de continuarmos a perspetivar o futuro e trabalhar a prevenção da doença, independentemente da situação de pandemia em que vivemos atualmente pois “é essencial para o futuro do nosso Serviço Nacional de Saúde que mantenhamos este olhar sobre outros temas”. Especificamente sobre o sobrediagnóstico, realçou a importância do diálogo entre médicos e doentes, e a importância da mensagem que “mais nem sempre é melhor”, referindo-se a tratamentos ou intervenções desnecessários que podem ter efeitos adversos para os doentes. “O diálogo que se estabelece nessa relação entre médico e doente é a única forma de ter melhores resultados em saúde”, frisou, numa referência à importância das associações de doentes como parceiros nestes processos. Frisando as dezenas de recomendações já emitidas pelos Colégios da Especialidade, Miguel Guimarães enalteceu também o trabalho da coordenação, liderada por António Vaz Carneiro, na qualidade de coordenador do Conselho Nacional para a Formação Profissional Contínua da Ordem dos Médicos e de toda a “magnífica equipa” de médicos que trabalha em prol da educação para a saúde.

Neste webinar dedicado ao tema “overdiagnosis and low value healthcare” contou-se com a intervenção de Minna Johansson (da Cochrane Suécia) e de Holger Schunemann (Cochrane Canadá), como oradores convidados. No debate final, os oradores responderam às questões, nomeadamente das associações de doentes, parceiros importantes do programa Choosing Wisely Portugal, ou do representante das escolas médicas, Fausto Pinto.

Da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla foi colocada a questão sobre a importância da figura do “patient manager” como potenciador de benefícios para os doentes, neste diálogo por vezes complexo. Minna Johansson considera importante melhorar a perspetiva dos doentes e, embora considete o “patient manager” uma potencial boa ideia, alertou que a necessidade desse “intermediário” no diálogo, pode significar que como médicos “deveríamos estar a ajudá-los melhor”, nomeadamente fazendo um melhor trabalho em termos de comunicação.

Holger Schunemann  depois de abordar as intervenções que têm pouco ou nenhum benefício para os doentes e que têm o potencial de causar mal aos doentes ou fazê-los incorrer em gastos desnecessários ou desperdício de recursos em saúde que são limitados enalteceu os estudos da OMS na área da redução de algumas práticas potencialmente desnecessárias ou prejudiciais, por exemplo no diagnóstico da tuberculose com recurso a testes que tinham pouca sensibilidade e cujos falsos positivos acarretavam elevado prejuízo, nomeadamente em termos de estigma para os doentes.

Da associação EVITA chegou para este orador uma questão sobre a importância de envolver os doentes na conceção das guidelines e recomendações, ao que Holger Schunemann respondeu sem hesitar que sim, mas deixou o alerta: tal como os médicos, também os doentes têm que ter bem presente as questões dos conflitos de interesse que podem enviesar o trabalho. Mas, embora possa haver exceções em questões de saúde pública, referiu, “por regra a resposta será sim: em todas as guidelines que fiz nos últimos 10 anos envolvi os doentes”.

António Vaz Carneiro encerrou a reunião agradecendo aos mais de 100 participantes e explicando que o ISBE tem como natureza ser uma organização agregadora de outras instituições que se juntam para discutir questões em comum. Como aconteceu neste profícuo webinar.

 

*O Choosing Wisely Portugal – Escolhas Criteriosas em Saúde é um programa de educação para a saúde internacional que em Portugal é desenvolvido pela Ordem dos Médicos através dos seus Colégios da Especialidade e sob coordenação do Conselho Nacional para a Formação Profissional Contínua.