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Livro reúne testemunhos de quem está na primeira linha

Decorreu no dia 27 de outubro na Ordem dos Médicos a apresentação do livro que a instituição apoiou conjuntamente com a Astellas: “Primeira Linha”. Trata-se de um projeto que tem como objetivo fazer um agradecimento a todos os profissionais de saúde e, ao mesmo tempo, partilhar histórias reais de quem continua a arriscar a sua vida no combate a um vírus que ainda não tem cura. A obra reúne mais de 150 testemunhos de profissionais de saúde, como de outras personalidades, que relatam na primeira pessoa a forma como têm sido vividos estes meses da pandemia da COVID-19 e o respetivo confinamento.

O lançamento foi em formato webinar e, na OM, apenas os apresentadores da obra: Miguel Guimarães (bastonário da Ordem dos Médicos), Filipe Novais (diretor-geral da Astellas Portugal) e Filipe Ribeiro (diretor médico da Astellas Portugal). Filipe Novais realçou o lado humano dos testemunhos que leu no livro e que o emocionaram. Na sua intervenção inicial fez questão de realçar que a indústria farmacêutica tem sido um parceiro presente nesta pandemia, procurando e apoiando soluções. “Depois de ler este livro, percebi melhor os dilemas de quem tem uma profissão de risco e em casa a família”, confessou Filipe Novais. “É preciso coragem para estar na linha da frente”, afirmou, convidando à leitura da obra e frisando que os testemunhos compilados no livro “Primeira Linha” ajudam a perceber melhor a “relação única” que se estabelece entre o doente e o médico, realçando a carga emocional que essa relação possui.

Já Miguel Guimarães, enalteceu a iniciativa, que embora se chama “primeira linha” é um agradecimento a todos, pois “também os que estão na retaguarda são importantes”, frisou o bastonário. “O que é o SNS se não as pessoas que o fazem todos os dias?”, questionou, referindo-se aos profissionais de saúde, muito especialmente dos médicos, que “têm que ser ouvidos” pela tutela. Este livro apresenta-nos precisamente as fragilidades e forças dos autores dos testemunhos: “página a página, desfilam sentimentos expressos, na sua maioria, por médicos, mas também por enfermeiros, farmacêuticos, autarcas, doentes, representantes das sociedades científicas, da indústria farmacêutica ou da sociedade civil, incluindo escritores e jornalistas, entre outros. Esta multiplicidade de olhares sobre a pandemia é uma excelente metáfora para o que tem sido o combate à COVID-19, em que todos somos responsáveis por contribuir se queremos ser bem-sucedidos. “Juntos somos mais fortes” é, aliás, o mote de vários textos que aqui iremos encontrar”, resume o prefácio da autoria do bastonário da OM. Referindo o défice de capital humano no SNS, Miguel Guimarães, frisou a resiliência notável dos médicos, reconhecida amplamente pelos portugueses em todos os estudos e sondagens que têm sido realizados, mas pouco reconhecida pela tutela. “Só com uma boa saúde temos uma boa economia”.

O diretor clínico da Astellas, Filipe Ribeiro, introduziu o tema da saúde mental, questionando se se está a tratar dos médicos, aproveitando o mote dado pelo próprio bastonário no prefácio desta obra: “…a verdade é que todos fomos sujeitos a níveis angustiantes de stress e que as consequências não se farão sentir necessariamente hoje… Temos que permanecer atentos e continuar a cuidar de quem cuida pois há um elevado risco de se despoletarem situações de stress pós-traumático. Disso mesmo nos tem alertado o colega Júlio Machado Vaz, o qual, neste livro, escolheu falar-nos da vivência familiar, do ponto de vista de um profissional que faz parte dos grupos de risco desta pandemia, deixando o alerta de que a saúde mental não pode ser o parente pobre do SNS”. Respondendo ao desafio, Miguel Guimarães alertou para os níveis crescentes de sofrimento ético e burnout: “O Ministério da Saúde não está a cuidar de quem cuida de todos nós”, lamentou.