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Hospital de São João: liderança para responder a doentes COVID e não-COVID

O bastonário da Ordem dos Médicos visitou, no dia 9 de fevereiro, o Centro Hospitalar e Universitário de São João com o objetivo de perceber de que forma a liderança clínica “exemplar” na instituição tem permitido uma boa resposta aos doentes COVID, sem deixar outros doentes também urgentes para trás.

Miguel Guimarães foi recebido pelo presidente do conselho de administração, Fernando Araújo, e reuniu com António Sarmento (diretor do serviço de doenças infecciosas), Margarida Tavares (infecciologista), Nelson Pereira (diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva), Cristina Marujo (diretora do serviço de urgência) e Maria João Baptista (diretora clínica). Estiveram ainda presentes Dalila Veiga (presidente da sub-região do Porto da Ordem dos Médicos) e Susana Vargas (membro e tesoureira do Conselho Nacional da Ordem dos Médicos).

Fernando Araújo deu conta que existe no hospital a preocupação de manter a qualidade do atendimento, mas sem esquecer a importância de manter a saúde física e mental dos profissionais, o que se traduziu, por exemplo, na “redução da duração dos turnos” dos médicos que estão na linha da frente, o que permite prevenir o burnout e melhorar também a produtividade. Margarida Tavares esclareceu que o pico no Hospital de São João foi “maior em novembro”, sentindo-se agora uma ligeira descida na pressão hospitalar e nos internamentos. Desde o início da pandemia (2 de março de 2020), o hospital teve internados 2.063 doentes. No que diz respeito à redução dos turnos, Margarida Tavares deixou outra nota importante para a capacidade organizacional da instituição: “há pessoas para resolver as burocracias sem ser necessário que os médicos percam tempo do seu trabalho, isso é muito importante”. Não é só na questão técnica que se faz a diferença, mas também no humanismo. “Há um esforço para permitir que os familiares se despeçam dos seus entes queridos (…) fico emocionada com este trabalho dos meus colegas”, contou a infecciologista.

A “capacidade de escalar”, relatada por Fernando Araújo, foi o que permitiu que o hospital recebesse vários doentes transferidos de outros hospitais. “Cerca de 18 doentes até ao momento”, relatou Nelson Pereira. A disponibilidade mantém-se, mas nos últimos dias não tem havido essa necessidade de continuar a receber doentes de outras instituições.

Depois da reunião, o bastonário visitou o serviço de doenças infecciosas, bem como o serviço de urgência, dialogando com os profissionais que fazem, todos os dias, o melhor trabalho para salvar todos os doentes. António Sarmento lamentou que já se tenham perdido algumas vidas para a COVID-19, mas destaca números “muito melhores que no Reino Unido ou nos Estados Unidos”, no que diz respeito a uma taxa de mortalidade de 33% em doentes que precisaram de ventilação invasiva. É uma taxa pequena, tendo em conta as complicações destes doentes, e que só foi possível devido à “qualidade dos médicos e restantes profissionais”.

No final da visita, Miguel Guimarães falou com os jornalistas onde defendeu que é “absolutamente essencial pôr em prática um plano de contingência para os doentes não-COVID. A sugestão que deixo à ministra da Saúde é que rapidamente ative a task force dessa área, se é que ela existe”, disse.

“Quando esta situação da COVID-19 terminar vamos ter dois tsunamis. O da economia, que tem impactos sociais enormes. E o tsunami da saúde. Temos já de começar a atuar no terreno nesta matéria”, alertou o bastonário.

Fernando Araújo, também questionado sobre esta matéria, disse que os doentes de sempre “são um enorme motivo de preocupação”, principalmente por que “um em cada três doentes não está a chegar aos hospitais e se a incidência das patologias não reduziu, significa que vamos tê-los mais tarde em piores condições clínicas (…). Na oncologia temos assistido a doentes que recorrem ao hospital mais tardiamente e com condições clínicas mais complexas e mais difíceis de tratar”.

Miguel Guimarães sublinhou que, em todo o país, “em 10 doentes internados nos cuidados intensivos, nove são COVID-19”. “Temos de ter mais camas livres” antes de poder desconfinar, sublinhou, alertando que a futura retoma já deveria estar a ser preparada.