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Rolando Espinho Moisão(1922-2006)

    Homenagem

    Prof. Rolando Moisão

    Rolando Espinho Moisão, titular da cédula nº 5688 da Ordem dos Médicos, nasceu em 20 de junho de 1922 e faleceu no dia 1 de novembro de 2006. Teve uma vida cheia de realizações em vários domínios, com destaque para a carreira académica, que abraçou com paixão e prosseguiu com um sucesso que pode sintetizar-se com os seguintes dados: licenciatura com elevada classificação na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde prosseguiu a carreira académica com provas brilhantes de doutoramento e agregação em Cirurgia; Professor Catedrático da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

    Em 1977 aceitou o desafio de integrar o grupo que ultrapassou uma grave crise no arranque do ciclo clínico desta Faculdade, participando de forma relevante na normalização do seu funcionamento de forma a permitir aos estudantes a prossecução dos seus estudos sem interrupções.

    Neste âmbito, estruturou a área das disciplinas de cirurgia e desempenhou um papel fulcral para a desejada e indispensável estabilização académica que depois se verificou, concitando, para o efeito, a colaboração de vários hospitais, incluindo os militares, e de um grupo de cirurgiões que o acompanharam nessa nobre missão. Reconhecendo a importância e o entusiasmo da sua participação neste processo, os estudantes da Faculdade prestaram-lhe uma sentida homenagem que culminou com o descerramento de uma lápide de profundo e sentido agradecimento ao Prof. Rolando Moisão. Regeu, na época, as cadeiras de Patologia Cirúrgica e de Clínica Cirúrgica, vindo a fixar-se nesta última até à jubilação, em 2002.

    Na continuidade dos objetivos traçados, inaugurou, em setembro de 1980, o Serviço Universitário de Cirurgia Geral e Digestiva do Hospital de Pulido Valente, que idealizou e dirigiu com uma liderança edificante, vencendo, com paciência, tranquilidade, perseverança e incontornável capacidade diplomática, inúmeras dificuldades para conseguir um serviço com a dignidade e a qualidade técnica e científica que ambicionava. Tudo isto numa gestão caraterizada por um relacionamento humano exemplar, pela preocupação com o bem-estar dos doentes e a qualidade do ensino, e pelo apoio constante aos colaboradores, que estimulava continuamente no sentido de prosseguirem nas suas carreiras académica e hospitalar, incutindo-lhes o gosto pelo conhecimento e pela evolução científica e tecnológica, e a ideia de que a Medicina deve ser encarada como um sacerdócio pela devoção que exige o exercício desta profissão.

    Sempre jovem no pensamento, acompanhou permanentemente e com entusiasmo as notáveis e prodigiosas conquistas que, de forma meteórica, o mundo científico tem vindo a concretizar nos nossos dias em todos os domínios. Com esta forma de estar na vida, quando, em 1989/1990, a videocirurgia começou a ser conhecida e praticada, o Prof. Moisão apoiou incondicionalmente os cirurgiões do seu serviço a fazerem parte dos pioneiros desta nova forma de praticar a cirurgia. Mesmo depois de jubilado, continuou com prazer e entusiasmo a pôr à prova o seu amor pela docência, cedendo com exaltação a convites para lecionar na “sua Faculdade”, mantendo contacto com os estudantes que tanto estimava.

    Foi também assessor científico muito apreciado da Escola Superior de Saúde Militar, publicou numerosos artigos científicos e participou como convidado de honra em múltiplos congressos e reuniões científicas nacionais e internacionais.

    Era um cirurgião com uma notável reputação como pedagogo de excelência e homem de cultura; um professor de grande talento, com uma vocação contagiante para o ensino (considerava que o exemplo é a melhor forma de ensinar e insistia no conceito de que a aprendizagem se faz com o domínio da inteligência sobre a memorização).

    Ensinou com paixão, divulgou conhecimento e lutou por valores morais e éticos com a elevação que carateriza os grandes homens, cabendo-lhe, com toda a propriedade e incontestável mérito, o título de Professor de que muito se orgulhava e que tão bem lhe assentava.

    Era também um humanista, um homem de cultura, que, na azáfama da atividade profissional, arranjava tempo para as letras e para a náutica, que o fascinavam. Falava amiúde e de forma entusiástica das suas deslocações a bordo do iate que comandava e deixou obra literária consubstanciada na publicação de vários livros, nos quais é possível comprovar que o seu talento não se confinava ao exercício da profissão de professor e cirurgião. Com o pseudónimo de Jorge Marinho, deu ao prelo: Obra Poética I, Obra Poética II, Encanto Discreto da Clínica, As Ideias, as Cores, as Formas e os Sons, Histórias da Terra e do Céu e Elogio do Pecado, culminando numa coletânea de reportagens e entrevistas realizadas na fase de jornalista, iniciada quando tinha 20 anos, na obra Caleidoscópio do Mundo, que foi publicada no ano em que nos deixou.

    Com este curriculum, não surpreendeu que, após a jubilação, se tenha entusiasmado com a organização da Biblioteca Histórica da Ordem dos Médicos, de que foi fundador, impulsionador e diretor, recuperando inúmeras obras valiosas que já se consideravam perdidas para sempre. Este trabalho foi indispensável para a Ordem dos Médicos ter, finalmente, uma biblioteca que a dignifica e constituiu o mote para a sua última obra, A Biblioteca Histórica da Ordem dos Médicos, que publicou com o seu próprio nome.

    Era um homem de bem e genuíno na forma de estar na vida, um intelectual simples e sóbrio, como é timbre das pessoas com inteligência superior, com uma enorme capacidade de ouvir e compreender os outros e de aceitar ideias e sugestões, dedicado a causas sem a expectativa de usufruir de lucros ou proventos. Fazia tudo com entusiasmo contido e impunha-se pelo exemplo e pela retidão de caráter que o caraterizavam. Influenciou e ajudou todos com quem conviveu enquanto professor, colega ou amigo mais experiente e sabedor, estimulando a formação de homens com conhecimento abrangente em matérias que transcendem os conteúdos curriculares. Por isso, para os amigos e discípulos, o Professor Moisão permanece bem vivo na memória de todos os que tiveram o privilégio de beneficiar do seu são e amigo convívio académico, do saber e da erudição de um mestre que prodigalizou ensinamentos a todos os seus discípulos. O seu exemplo fica na memória dos nomes grandes da Medicina Portuguesa

    A Ordem dos Médicos prestou-lhe uma mais que merecida homenagem ao dar o nome do Professor Doutor Rolando Moisão à Biblioteca que com tanta sabedoria e carinho organizou, reconhecendo-lhe os méritos e contribuindo para “perpetuar” o seu nome na “casa dos médicos” que ele tanto prestigiou.

    Manuel Jorge de Queiroz Medeiros

    Datas

    Nome completo: ROLANDO ESPINHO MOISÃO
    Cédula:   5688
    Nome Clinico: ROLANDO MOISÃO
    Naturalidade: BEJA
    Data de nascimento: 20/06/1922
    Data de inscrição na OM: 25/09/1945
    Data de formatura: 26/07/1945
    Faculdade: FM UNIVERSIDADE DE LISBOA
    Especialidades: CIRURGIA GERAL e GASTRENTEROLOGIA
    Data de falecimento: 1/11/2006

    Nota: a OM assegura aos herdeiros os direitos de acesso, retificação e apagamento destes dados pessoais.

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