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“Fizemos o juramento de estar com os nossos doentes quer eles se curem, quer não se curem”

Os últimos dias ou horas de vida de um doente – momento conhecido como agonia – representam um desafio para todos os envolvidos nos cuidados, desde os médicos à família. É para dar respostas rápidas e práticas a algumas das principais dúvidas, transversais a várias especialidades com prática clínica, que nasce o Guia Sintético “Abordagem da Agonia – Últimos Dias e Horas de Vida”, apresentado no dia 29 de junho, no auditório da Ordem dos Médicos, em Lisboa.

A apresentação do manual, da autoria de Isabel Galriça Neto, Mariana Barosa e Tiago Neto Gonçalves, contou com uma intervenção do bastonário da Ordem dos Médicos. Miguel Guimarães começou por elogiar a “atividade cívica” e o trabalho em prol dos cuidados paliativos de Isabel Galriça Neto, também presidente da Competência em Medicina Paliativa da Ordem dos Médicos. O bastonário recordou que, em parceria com a Fundação La Caixa, foi possível criar bolsas que aumentaram em 20% o número de médicos com esta competência.

O bastonário elogiou a “solidariedade, dedicação e humanismo” dos médicos, em especial na pandemia, e considerou que o guia agora publicado vai permitir melhorar a resposta em fim de vida. “Há muitas coisas que vamos aprendendo com a prática clínica e não estamos preparados para tomar algumas decisões fundamentais para os nossos doentes. O guia é um contributo para várias idades e várias especialidades e vão encontrar aqui uma orientação e uma segurança”, adiantou.

Miguel Guimarães aproveitou ainda a ocasião para destacar que o Código Deontológico é algo que só pode ser alterado pelos próprios médicos e que proíbe tanto a obstinação terapêutica como a eutanásia e o suicídio assistido. Em referência a uma alegada recomendação do Parlamento Europeu para se considerar o abordo um direito fundamental e para se acabar com a objeção de consciência, o bastonário assegurou que teve garantias de que tal não será assim. “Quando nos regimes democráticos pensamos em limitar a liberdade de consciência e de pensamento, a democracia está muito mal”, frisou.

Na sua introdução ao guia sintético, Isabel Galriça neto começou por agradecer o apoio do bastonário à iniciativa e por elogiar os jovens autores, “que se preocuparam com o espaço de melhoria que podia existir nos cuidados a pessoas em últimos dias e últimas horas de vida”. A médica descreve o manual como um agregador de boas práticas, que se destina a todos os colegas com prática clínica. “Não pretendemos uniformismo”, assegurou, mas garantiu que o guia permitirá melhorar a qualidade de vida dos doentes. “Para nós médicos é bom lembrar que a morte não é um falhanço, é uma inevitabilidade. “Fizemos o Juramento de estar com os nossos doentes, quer eles se curem quer não se curem. Nós médicos não esquecemos os doentes que não se curam”, lembrou.

Tiago Neto Gonçalves, que tal como Mariana Barosa é interno de medicina interna, partilhou que foi ainda durante o internato de formação geral que os dois sentiram que “era possível fazer mais e melhor no período da agonia”. O jovem médico assume que existem já guias com muita qualidade, “mas muito completos e descritivos para os doentes com necessidades paliativas e não necessariamente para o período de agonia”. Além disso, pretenderam também construir um documento de fácil consulta, compatível com a pressão com que a medicina é exercida hoje, seja em contexto de urgência ou de internamento. Dos sintomas na fase de agonia, passando por dúvidas relacionadas com a desprescrição, com a gestão da nutrição, da hidratação, bem como com o apoio à família, são vários os temas que o manual aborda.

A ideia é que o documento, disponibilizado no site da Ordem dos Médicos, seja atualizado e melhorado, com o contributo de todos.

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