+351 21 151 71 00

COVID-19: Comunicação não pode ser para defender decisões políticas!

A evolução da pandemia em Portugal com o crescimento do número de casos e de internamentos esteve em debate no Fórum TSF de dia 9 de junho, com a participação de Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos. O fórum analisou a necessidade de travar as festas dos santos populares, nomeadamente em Lisboa e Braga, dois concelhos que não vão avançar na próxima etapa de desconfinamento. Estes são dados que deixam o bastonário da Ordem dos Médicos preocupado. “Temos que evoluir na matriz de risco”. Sobre Lisboa e Braga, especificamente, o bastonário questiona se está a haver um verdadeiro confinamento: “Neste  momento, o país, de um modo geral, está desconfinado. (…) Todas as pessoas têm responsabilidade no cumprimento das medidas: máscara, distanciamento e higiene”, nomeou, frisando que nunca é demais lembrar que estas medidas de proteção e prevenção preconizadas pela DGS são simples mas eficazes e essenciais.

“O que tem falhado? A matriz de risco devia ser adaptada à realidade: uma realidade em que a doença é menos grave, em que há menos óbitos, menos doentes internados” pois mesmo com os números a subir em Lisboa “não há uma pressão significativa no Serviço Nacional de Saúde, portanto a matriz de risco devia incluir outros indicadores”. O bastonário e o Gabinete de Crise da OM defendem, aliás, uma matriz de risco que tenha em linha de conta a incidência de número de infetados mas também a gravidade da doença, a evolução dos internamentos e dos óbitos, o esquema vacinal e taxa de vacinação nos vários grupos etários, o índice de transmissibilidade – “o famoso Rt que de repente desapareceu” – a prevalência e monitorização das variantes, que podem ser mais resistentes às vacinas, e detetar e divulgar o número de infeções nas pessoas já vacinadas, etc.

Mas, além dessas medidas, “a comunicação é fundamental: em primeiro lugar tem que ser centrada na população e não centrada em defender as decisões políticas”, referiu de forma perentória, lembrando que a comunicação tem que ser “o que se diz, o que se vê e o que as pessoas retêm”: porque se a mensagem verbal for diferente do que as pessoas veem nas imagens das televisões ou ouvem nas rádios o que retém é que a pandemia já está totalmente controlada; “Isto é perigoso porque a pandemia ainda existe (…) A vacinação tem um efeito fantástico na evolução da pandemia (…) mas até termos cerca de 70% da população vacinada – aquilo a que se chama a imunidade de grupo -“, a vacina não impede que haja infeção e transmissão do vírus. O bastonário considera que se houver falta de transparência e se, consequentemente, as pessoas não entenderem a mensagem, o risco da pandemia regredir é grande. “Não alterar a matriz de risco é uma má decisão”.

Miguel Guimarães considera preocupante a crescente necessidade de aumentar o número de enfermarias hospitalares dedicadas ao tratamento de doentes COVID nomeadamente porque sempre que isso acontece, estamos a diminuir a capacidade de resposta aos doentes não-COVID.

Sobre as festas, o bastonário não hesita: “claro que não pode haver festas populares” pois se assim fosse os casos iam aumentar muito mais, clarifica. “A vacinação está a decorrer a um bom ritmo mas a maior parte das pessoas ainda não está vacinada. A task force não pode fazer milagres”, pois depende tanto da capacidade técnica como da disponibilidade de vacinas, lembra o representante máximo dos médicos.

Além de apelar à responsabilidade dos cidadãos, Miguel Guimarães apela à responsabilização dos Estados: “Temos que ter uma atitude de prevenção comunitária” para que não deixemos que estas variantes potencialmente mais resistentes às vacinas possam circular livremente; “cada país tem que fazer o seu papel”, conclui.

Ouça este fórum AQUI