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“As responsabilidades são inteiramente políticas”, afirma Miguel Guimarães.

Na noite do passado dia 9 de junho uma mulher grávida acabou por perder o seu bebé no Hospital das Caldas da Rainha quando o serviço de urgência de obstetrícia da unidade estava encerrado por falta de médicos, o que resultou num atraso no atendimento à utente com consequências fatais.

Em declarações à Renascença, o bastonário da Ordem dos Médicos, afirmou acreditar que as responsabilidades são inteiramente políticas, não havendo culpa que possa ser atribuída aos médicos.

“Não havendo uma urgência de obstetrícia, uma equipa de obstetrícia preparada para este tipo de situações, quem estava lá perante a emergência da situação tentou resolver. Este tipo de situação tem de ser devidamente avaliado nos seus diversos aspetos. A responsabilidade é do próprio sistema de saúde e de quem tem responsabilidade política sobre ele”.

Miguel Guimarães deixou o alerta para as debilidades que hoje são vivenciadas no SNS, relembrando que se não forem tomadas medidas eficazes este desfecho pode repetir-se. “São situações que se podem repetir noutros hospitais. A morte de um bebé é sempre uma questão brutal, não é previsível que aconteça com frequência. A questão básica que é preciso esclarecer é que as equipas-tipo, que estão preparadas para salvar vidas, não têm sido cumpridas.”

O Conselho de Administração do hospital nega a existência de uma relação entre a morte do bebé e os problemas com as escalas, porém o bastonário acredita que se trata de uma tentativa de amenizar o caso e exige explicações. “O hospital vai ter que explicar essa afirmação e ser responsabilizado por ela. As responsabilidades normalmente são atribuídas ao sistema de saúde e quem o lidera. Dá-me a ideia de que a administração está a tentar desdramatizar a situação, que estava tudo bem. Não tenho essa informação.”

O bastonário reuniu com a ministra da Saúde para discutir os constrangimentos que se têm registado nos últimos tempos nas urgências hospitalares devido à falta de profissionais de saúde. Segundo Miguel Guimarães, da reunião com Marta Temido ficaram definidas “algumas medidas de curto e médio prazo com que a ministra se comprometeu a implementar. Porém, o problema maior continua a ser a resolução de questões relacionadas com capital humano no SNS. A resolução desse problema passa sempre por uma modernização do SNS e medidas que valorizem a carreira médica e ofereçam melhores condições de trabalho.”

Apesar do balanço da reunião com a ministra da Saúde ser positivo, Miguel Guimarães relembra que estas medidas de curto e médio prazo servem apenas para “mitigar a situação que se vive no SNS” e não para resolver os problemas existentes.