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Agressão ou laranjada?

Autor: Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos

 

Artigo de opinião publicado no “Correio da Manhã” no dia 23 de janeiro de 2020.

 

As novas propostas do Ministério da Saúde para acabar com a violência contra profissionais parecem um sketch humorístico. Depois do gabinete de segurança a funcionar junto da ministra – que apelidei como gabinete homeopático, por nada resolver e atrasar medidas urgentes – desta vez o Secretário de Estado da Saúde recusou medidas repressivas contra os agressores e defendeu, antes, “salas de espera com bom aspeto, com televisão, com revistas e alimentos leves”.

É impossível não imaginar um diálogo irónico entre um assistente operacional e um utente que aguarda há largas horas numa urgência. “Agressão ou laranjada, senhor Rui? Bem sei que pediu um médico, mas de momento não temos. Aproveite e espreite as dicas de saúde nas nossas revistas e repare que na televisão também estão a passar anúncios de suplementos milagrosos”. O senhor Rui remata com “venha de lá essa laranjada e um biscoito, que na semana passada estavam ótimos”.

Antecipa-se que a próxima medida da tutela seja rebatizar as instituições. O SNS conta com os chamados hospitais SPA (setor público administrativo) e hospitais EPE (entidades públicas empresariais). Os SPA podem manter o nome e juntar ofertas de massagens, os EPE vão passar a ser “Espaços Para Espairecer”.