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“A pandemia não está controlada em nenhum país da Europa”

O impacto da pandemia de COVID-19 na saúde e na economia portuguesa foi o tema central do novo programa de debate da RTP, “É ou Não É”, que estreou no dia 27 de outubro e contou com a participação do bastonário da Ordem dos Médicos. Ao ser confrontado com as declarações do secretário de Estado da Saúde, António Sales, que afirma que a pandemia está controlada, Miguel Guimarães foi perentório: “não está controlada, nem em Portugal, nem em nenhum país da europa”, porque os casos ainda estão a crescer e “já existe uma pressão enorme nos hospitais”.   

 A narrativa do Governo foi a única “voz” a defender um alegado “controlo” da pandemia. Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, foi ao encontro do que afirmou Miguel Guimarães: “atendendo ao crescimento dos números é difícil dizer que temos a situação controlada”. Como principais preocupações elencou a “escassez” dos recursos, nomeadamente na área da saúde pública. “Nós precisamos de um reforço estrutural, permanente”, já que “continuamos a acumular casos e temos dificuldades em responder em tempo útil aos inquéritos epidemiológicos”, alertou.

Miguel Guimarães relembrou que existem cerca de 15 mil médicos fora do Serviço Nacional de Saúde e que este é o momento “para utilizar todo o sistema de saúde”. “Toda a gente tem de estar disponível para ajudar (…) temos essa obrigação de ajudar o país”, acredita o bastonário que sublinhou que o desafio não está centralizado apenas no combate à doença COVID-19. Existem os doentes não-COVID, “muitas vezes com doenças mais graves” e, ainda, “a gripe sazonal” que irá aparecer. Tudo somado podemos estar a falar de uma “pressão brutal sobre o serviço público de saúde”. O bastonário da Ordem dos Médicos rejeita que se voltem a adiar milhões de consultas e que se volte a deixar os outros doentes para trás, “os doentes têm de estar em primeiro lugar”, afirmou.

O secretário de Estado, António Sales, declarou que não existe “qualquer preconceito ideológico” no recurso ao sistema privado e social, relembrando que “os privados estão a fazer cerca de 50% da testagem” à COVID-19. No entanto, o problema é mais denso do que isso, tal como asseverou Miguel Guimarães que questionou o que está a ser feito pela tutela para apoiar os médicos, e outros profissionais de saúde, que estão a chegar a níveis preocupantes de “burnout e sofrimento ético”. Ficaram a faltar respostas para estas questões, assim como para o que diz respeito à valorização das carreiras. O bastonário frisou que não existe nada no Orçamento de Estado sobre as carreiras médicas e que “é preciso cuidar dos profissionais que estão a cuidar de nós”, não basta dizer que se quer reforçar o SNS, é preciso operacionalizar esse reforço, ou, na impossibilidade, usar todo o sistema de saúde, apontou.

No painel de debate estiveram ainda presentes a ex-ministra da Saúde, Ana Jorge, que defendeu uma solução sem espaço para o sistema privado de saúde; o CEO da farmacêutica BIAL, António Portela, que enalteceu a colaboração entre investigadores, autoridades e indústria farmacêutica “numa escala nunca antes vista” e o economista Luís Aguiar-Conraria que afirmou estarmos “mais ou menos” protegidos de uma catástrofe económica “porque a medicina está a evoluir depressa” e defendeu que “se não há recursos no SNS, é óbvio que é necessário usar todo o sistema de saúde”.