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1/3 dos médicos não teve acesso aos equipamentos de proteção necessários

A Ordem dos Médicos promoveu, com vários parceiros (Fundação Vox Populi, Fundação Manuel Viegas Guerreiro – sediada em Loulé -, Fundação The Claude and Sofia Marion, Fundação Álvaro Carvalho e Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa), um conjunto de estudos relacionados com a prevalência do SARS-CoV-2 tanto na população em geral como nos profissionais de saúde. Para a análise desses dados essenciais para se conhecer o real impacto na pandemia em Portugal e para preparar o país para os meses que se aproximam, a OM conta com a participação do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e o Comprehensive Health Research Centre da Nova Medical School.

A conferência de imprensa de apresentação dos resultados preliminares aconteceu no dia 2 de outubro, na OM no Porto, e começou com Álvaro Carvalho a explicar a metodologia dos três estudos, que garantiu a isenção e qualidade, sublinhando o importante papel de todos os contributos. “Quisemos saber se as pessoas trabalharam protegidas”, explicou Álvaro Carvalho, referindo-se aos profissionais de saúde e lembrando que o estudo englobou apenas profissionais que estavam em contacto com doentes, sendo, portanto, grupos de maior risco. O presidente da Fundação Álvaro Carvalho explicou considerar que a taxa de prevalência não será mais elevada porque os médicos se protegerem e exigiram proteção, caso contrário teria sido “um descalabro como aconteceu em Itália ou Espanha”, refere, apresentando os resultados que indicam que houve um pequeno grupo – correspondente a 2,1% – que nunca usou equipamento de proteção individual (EPI), além de 16,4% dos profissionais de saúde terem referido que só tiveram acesso a EPI algumas vezes. Tendo em conta a importância do uso de EPI para redução do risco de infeção e de propagação da pandemia, o facto de haver quase 20% de profissionais que não usaram sempre equipamento de proteção individual deve deixar-nos preocupados. Essa foi, aliás, uma das preocupações da Ordem dos Médicos: Miguel Guimarães lamentou que estes estudos demonstrem que cerca de 1/3 dos profissionais de saúde não tenham tido acesso aos equipamentos de proteção individual necessários. “No início da pandemia faltaram equipamentos, razão pela qual a Ordem dos Médicos, juntamente com a Ordem dos Farmacêuticos e outras entidades, criou o movimento “Todos por Quem Cuida”, que ainda existe” porque ainda vai ser necessário, sublinhou, e que tinha como objetivo precisamente apoiar o SNS, por exemplo, através da aquisição de EPIs. “O movimento já ajudou distribuindo equipamentos de proteção por mais de 1000 instituições pelo país”. “Os profissionais foram utilizando os equipamentos que lhes foram disponibilizados pelos hospitais e centros de saúde”… Álvaro Carvalho também reiterou a importância dos profissionais exigirem trabalhar protegidos, lembrando a persistente defesa do bastonário da OM em que se criem barreiras que impeçam a progressão da pandemia, nomeadamente através do uso de equipamento de proteção de qualidade e adequado.

Ainda sobre os resultados preliminares que parecem indiciar prevalências relativamente semelhantes entre a população e os profissionais de saúde, Miguel Guimarães explicou que esta é ainda numa fase muito inicial e que é necessário que as análises – que vão ser feitas com a participação do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e o Comprehensive Health Research Centre da Nova Medical School – tenham em conta as diferenças entre as amostras usadas: para o estudo de prevalência do SarsCoV-2 nos profissionais, por exemplo, realçou a não inclusão de profissionais que já tinham testado positivo (circunstância que exige a aplicação de um fator de correção como já havia referido Álvaro Carvalho). Apesar de ser ainda preliminar, é de evidenciar que os resultados agora apresentados são muito parecidos com os que a Ordem dos Médicos recolheu junto dos médicos na fase inicial da pandemia.

Francisco Antunes sublinhou como os resultados estão diretamente ligados com os comportamento e medidas de proteção individual pois “o problema desta infeção é a elevada presença de assintomáticos” que, recordou, “são transmissores da doença”, reforçando a importância da proteção.

Os 3 estudos iniciais delineados incluíam um estudo a realizar em Vila Nova de Gaia para analisar a taxa de prevalência em Portugal, um estudo nos profissionais de saúde para perceber a taxa de prevalência no grupo e um de painel de vigilância imunológica e estão todos concluídos no terreno e em análise técnico científica.